segunda-feira, 21 de novembro de 2016

“Tá ligado” x “brother”


Fácil escolher? Né não, meu camarada. Muito ao contrário! Difícil pra caramba! Cê já as ouviu na fonte? É, essas acima. Do título. Rapaz, como diria uma personagem de novela da Globo: é brinquedo, não! Não, messsmo! Ah, o texto tá com um jeitão bem informal, meio escrachado. Pra entrar no clima.



Por mim, na verdade, as duas pro lixo. Em princípio, nada contra gíria. E isto não significa que saiba, bem, o que é, qual o seu papel (se é que tem) na formação do jovem, etc. Mas, ressalvo, não é por preconceito. Decerto à falta de algo leve melhor pra escrever... O que quero dizer é que, a priori, nada tenho contra as ditas cujas. Aquelas, em geral. As do título, já disse: odeio-as!
 

Vê só. Ou melhor, lê (e tenta ouvir), mas com cuidado pra não se perder: — E aê, bró (diminutivo de brother)? Beleza? — Beleza, véio. — E ontem? Qué que rolou, brother? — Pô, beijei umas mina na balada, tá ligado? E tu, bró? — Me dei bem não, tá ligado? Véio, só tinha mulé feia na parada que eu fui, tá ligado? Pense! — Furada, brother! Tu devia ter ido comigo. Tava irado, tá ligado? Se liga, tá ligado? — Só. E hoje? Onde é a balada, bró? — Hoje vou não, tá ligado? — Ôxe, por quê, véio? — É que tô com sapinho na boca. Da beijação da parada de ontem, tá ligado? — Irado, brother! Pense! Já tô vendo as mulé falando que você tá com a boca doente de tanta beijação. O cara é pegador! Irado demais! Tá ligado? — Só. Foi vinte e cinco boca, tá ligado? Dá pra tu? — Caraca!



Não falei antes? Fácil não, meu leitor confuso (e quem não fica, com uma conversa dessas?). Agora, tente abstrair as outras gírias acima (ou coisa que o valha), a falta do plural, os erros de concordância... E reflita: “Tá ligado?” e “brother” ganham de todas em ruindade, não? Pra mim, sem dúvida. Talvez pela repetição. A segunda, porque poderia ser trocada, com vantagem, pelo seu similar tupiniquim: irmão. Ô diacho de mania de querer ser “americano”! E a primeira, porque é sem pé nem cabeça. Uma bobajada sem tamanho. É “tá ligado?” pra lá, “tá ligado?” pra cá. Vote (lê-se vôte)!



Aí pensei: e das duas, qual a pior? Pudesse eu optar — e na impossibilidade de fazê-lo às duas —, escolheria qual para exterminar, com todos os requintes possíveis de crueldade? Bem, por questão de princípios, confesso, arrastaria a segunda à sarjeta. Estrangeirismo (argh!), não!



Mas tenho de admitir que “tá ligado?” é insuportável. Insuportável demais da conta! Tá ligado? Bró. Ops!

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Escrito em mai.2006
Crônica publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 18/05/2006
Foto em http://textosdacriscampos.blogspot.com.br/

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