domingo, 9 de novembro de 2014

Suas mãos


Não sossegarei até vê-lo
Gosto tanto de ver as suas mãos nas minhas
Minha assinatura parece com a sua, sabia?

Acordar às quatro da matina
Lembra Miguel Ângelo Vaz?
Nós dois, com saco de plástico pra emagrecer?

O jeito másculo da sua assinatura
Bruto, rude, meio alheio às técnicas de autenticidade
Adorava vê-lo desenhá-la(?)

Pai, velho, hoje você deve estar por aqui
Porque não paro de te ver, caramba
Pai, eu te amo


Viu?

De novo, meu pai

Sinto saudades de ti
Suas mãos parecem com as minhas
Eu te amo tanto, pai

Sinto você por perto
Queria saber está comigo
Eu te amo tanto, pai

Não há dia sem você
Em todos lembro de ti
Eu te amo tanto, pai

Vejo alguém que dirige bem
Você que me ensinou
Eu te amo tanto, pai

Nunca me deixou faltar nada
Ao ponto de que nem percebia
Eu te amo tanto, pai

Olho de novo pra minhas mãos no teclado
Gosto de olhar as suas nas minhas
Eu te amo tanto, pai

Quero tanto que você esteja bem, pai
Quero tanto que você não esteja mais sofrendo
Quero tanto sentir você de novo comigo

Suas pernas magrinhas
Seu bíceps, que, eu pequeno, você me mostrou era grande
Sua presença que nunca me faltou

Seu desejo eu estivesse próximo
Seu pedido de socorro, doentinho
Eu te amo tanto, pai

Ah, como sinto sua falta
Como sinto falta de tanta coisa
Eu te amo tanto, pai

Quando me vejo descartando a guerra
Lembro que assim era você
Eu te amo tanto, pai

Não há madrugada que não lembre
Você as desbravava
Eu te amo tanto, pai

Penedo, quatro horas da matina
Ah, pai, graças a Deus acordei para acompanhá-lo
Eu te amo tanto, pai

Consegui trazê-lo aqui
Essa escada você subiu
Eu te amo tanto, pai

Lagartixa, as mais diversas épocas
Desde festa de Santa Efigênia
Eu te amo tanto, pai

O trator, os pés de laranja
Os passarinhos que desisti de alvejar
Eu te amo tanto, pai

Fico imaginando, pai
O tanto que você me amou e não disse
Eu te amo tanto, pai

Lembro do seu pedido de socorro na madrugada
Tinha que ser eu
Eu te amo tanto, pai

Lembro de tudo
Não há nada que me escape de você
Eu te amo tanto, pai

Sou capaz de ver sua cabecinha perto da minha
Quando são, e também quando doentinho
Eu te amo tanto, pai

Nada me era pior do que ir vê-lo naquele quarto
Tão fraquinho, tão indefeso
Desculpe-me, meu pai

Choro quando me decido a deixar você vir
Porque deixar significa sentir uma imensa saudade
E sempre tem sofrimento


Sinto tanto sua falta, meu pai...

Indo e voltando

Quero é amar-te
Levantara-me
Voltei
Quis dizer
Quero é amar-te

Quero é beijar-te
Lavara-me
Voltei
Quis dizer
Quero é beijar-te

Quero é abraçar-te
Levantara-me
Voltei
Quis dizer
Quero é abraçar-te

Quero
Por isto o fiz
Fazendo, retornei
Queria no fundo dizer-te

Amo-te

Amigo

Houve um tempo em que imaginei as verdadeiras amizades seriam eternas. E nesse sentido sempre me tive como alguém privilegiado. Boas amizades, e poucas. Ter poucas, inclusive, veio reforçar o privilégio que imaginei ter.

Já tive oportunidade de dizer, já a tive até de escrever. Já me imaginei tendo um amigo pra vida toda. Um amigo que soubesse de mim. Amigo é tão importante. A minha sorte é que nunca deixei de ter um.

Já tive amigos de todas as características. Mas uns dois, ou três, ou quatro, novos ou velhos, de antes, ou de agora, os tive. Tive até aquele que, pelo companheirismo, pela presença, física, inclusive, pelas risadas, pelas tristezas, pelo amor (é, pelo amor), sempre esteve comigo. Aquele que cria era e sempre seria talvez o meu maior amigo. Junto com outros que a ele se somassem, que fosse. Mas ele seria.

Aí você pensa o que fazer com todo aquele amor. Aí você pensa que tem que aprender a lidar com aquela ausência. Aí você pensa que continua amando, mesmo assim. Aí você pensa que esse tal de amor é uma merda, e não é, exato porque é amor. Aí você quer mesmo é que esse amigo seja feliz. Mesmo que você não participe dessa felicidade. Aí você, triste e com saudade o seja, que seja, reza por ele.


Sentires

Quando o que se sente
Se sente, mas parece diferente
É tudo, que mais pode
Mas não parece, olhando

Quando o que se sente
Se sente, e parece maior
É tanto, que tanto é
E olhando, parece

O que se sente
Tão grande é
O que é sentido
Ser parece não

O que se sente
Sua vida toma
O que é sentido
Falta, parece

Quando o que se sente
Se sente, maior não há
É tanto, você sente
E olhando, parece

O que se sente
Enche seu coração
O que é sentido
Coração parece vago

O que se sente
É tão grande
O que é sentido

Quer ser

Que me importam...


Que me importam as desilusões

Que sofri por não ter conseguido imaginá-las viriam

Que me importam as tristezas

Para as quais não fui capaz de me preparar

Que me importam as decepções

Que jamais as imaginaria (até por isto)

Que me importam os dias tristes

Que me importam as dores

Que me importam as falsidades

Que me importam as dificuldades


Que me importa a solidão

Se você jamais deixará de estar comigo...