sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O Andrezinho, meu filho

Crônica
Há 12 anos. Por essa idade tive a primeira namorada. Namoro com jeito e aparência de namoro. Considero meu ingresso definitivo na adolescência. Não, não sei quando começa a adolescência. Se depois, então considere-se que foi um ingresso precoce. Meu filho — o segundo, único homem — nasceu há 12 anos. A crônica é sobre ele. Está sendo escrita na madrugada do seu aniversário. O meu ingresso na adolescência não tem qualquer importância. Apenas lembrei. Devo ter feito a referência tentando reservar algum destaque na crônica para mim, por vaidade. Mas esqueça. É sobre ele. Teve o meu nome. Ou deveria dizer, tem o meu nome? Sei lá. O fato é que é meu filho(!), e chama-se André. Termina em “Filho”. Com todo respeito aos Juniores, queria que fosse chamado pelo nome. Ou melhor, pelo prenome. Assim foi. Optasse pelo Júnior (Jr.), talvez não fosse.

Assim, é o André. Para mim e muitos da família, o Andrezinho. Vá lá que seja o diminutivo carinhoso. Não, não tive qualquer participação na escolha do nome. Não induzi, muito menos forcei o fosse. Mas gostei. Uma vez me disseram, sem lembrar-se que ele tinha o meu nome — acho que quem o disse sequer sabia que eu tinha filho homem —, que era “um perigo” essa história de dar o nome ao filho. Este poderia decepcioná-lo na vida adulta, manchando o patronímico. Minha preocupação com o comentário durou, no máximo, uns... 5 segundos. Primeiro porque não acreditei nessa hipótese. Segundo porque sempre seremos duas pessoas diferentes, apenas com o mesmo nome. Terceiro porque o amo.

É, o amo. Velho — não dá pra escrever velho(a), muito menos velha, porque é deselegante demais; assim, entenda dirigido o comentário também a você, leitora, ainda que sem o (a) seguindo o velho —, é verdade! Sou completamente apaixonado por ele. E o melhor: ele também o é por mim. Rapaz, ou moça (agora dá), juro por Deus: o meu filho é doido por mim! Tem coisa melhor do que isto? Diga, vá. Tem? Tem, nada. Aliás, sempre foi. Desde que se entendeu por gente. Na verdade, não sei quando isto aconteceu — dele se entender por gente —, mas garanto, juro de pés juntos, que foi assim como estou contando. É claro — e você tem toda razão de dizer, se quiser —, é muito convencimento meu, mas é assim que sinto, é isto que vejo. Em seus olhinhos, em seus atos, em seu terno — e longo, e forte (apesar dos braços ainda finos) — abraço. No “bença, pai”, quando nos despedimos ou ele vai dormir. É Deus no céu, e este que vos escreve, na terra.

Torce pelo CRB/AL. Aliás, como eu. Já torceu também pelo Flamengo/RJ, uma espécie de 2° time, quando o Galo não se fazia presente na competição disputada. Também como eu. Mas paixão, mesmo, só pelo Galo de Campina. E desde algum tempo, felizmente, torce apenas pelo único clube de seu coração, o alvirrubro alagoano. Igualzinho ao que vos escreve. Com 10 anos completos coloquei-o numa escolinha de futebol. Engraçado esse negócio de escolinha. Minha época, feitas as tarefas escolares, tinha o resto do dia e parte da noite para jogar bola, ou rachar, como chamávamos o que hoje se conhece por bater uma pelada. Na rua ou nos diversos campos e terrenos da Ponta Verde. Não tinha carro passando em velocidade (quando tinha carro), nem assalto, muito menos seqüestro, nem drogas. Hoje, não. Fora o colégio — se tiver campo ou quadra(!) —, tem que colocar em escolinha. Se não, o menino não “racha”. Na noite que antecedeu à sua estréia, tive uma preleção com ele, tranqüilizando-o de que, se não se sentisse muito à vontade no primeiro dia, se os meninos não lhe passassem a bola, enfim, se fosse “grosso” (ruim de bola) — não, isto eu não falei pra ele, claro —, não se preocupasse porque eles estavam treinando há muito mais tempo, tinham mais experiência, e blá, blá, blá. Tentava protegê-lo de uma eventual (e, para mim, provável, quase certa) decepção. Hum, qual o quê! Não se passaram 5 minutos e até o professor já o chamava pelo nome. Pois é. Rápida, quase instantaneamente, se destacou, passando a ser o destinatário (e ator) da maioria das jogadas de seu time. Francamente, fiquei impressionado e, mais do que isto, aliviado. Conta todos os gols que fez. Acho que já está perto dos 200. Já, já pega o Romário.

Ano passado, na sua segunda competição de judô pela escola, a dor da derrota chegou. Vi-o perder as duas lutas que disputou. Percebi a aflição que sentia, certamente pensando que estava a decepcionar-me, seu pai, seu herói. Eu o incentivava, das arquibancadas. Ele lutava. Sério, né exagero, não. Fiquei babando de ver como ele enfrentava bravamente aqueles meninos, muito mais bem preparados tecnicamente do que ele. Quer dizer, era um sentimento misto: orgulho e compaixão. Finalmente, a luta acabou. De longe, percebi que não conseguiu conter as lágrimas. O professor disse-lhe algo, confortando-o. Veio caminhando até a mim, cabeça baixa, triste, olhos molhados. Dei-lhe um abraço forte e longo. Chorou. Falei da minha admiração pela maneira corajosa como enfrentou os adversários. “Isto era o que importava. Sempre vai existir o que ganha e o que perde. É preparar-se para a próxima vez. Você venceu o medo e as dificuldades. Só os vitoriosos conseguem. A vitória não está, necessariamente, em ganhar a luta, mas em lutar, dando o melhor de si. Foi o que você fez. Estou orgulhoso de você.” As lágrimas acabaram por secar.

Ainda no ano passado, estava com dificuldades em matemática. Havia se descuidado e precisava recuperar-se. Procurou-me, angustiado e preocupado. Tranqüilizei-o, afirmando-lhe que o ajudaria. Marcamos de estudar, dentro de 2 ou 3 dias. Nesse momento, perguntei-lhe qual o seu maior sonho. Respondeu-me dizendo que era passar na matéria. Disse-lhe, então, que se tranqüilizasse, porque eu, a partir daquele momento, compartilharia do seu sonho, e sonhos compartilhados são sonhos realizados. No dia designado, fomos estudar. Antes, ele passou-me um bilhete, assim escrito: “Paintcho, matemática é uma matéria de puro raciocínio, por isso vc terá que me ajudar a estudar. Matemática é uma matéria difícil, mas eu vou conseguir passar com sua ajuda. Por isso existe o ditado: SONHOS COMPARTILHADOS, SONHOS REALIZADOS.” Após os estudos, ele me abraçou longamente, beijou-me e, no meu ouvido, disse-me, baixinho: ‘brigado, pai. Hein? Se passou? E então!

Tenho três filhos lindos, amorosos e maravilhosos. Hoje é o aniversário do segundo. Esta crônica é para ele. O André, ou, para nós, sua família, o Andrezinho. Nós nos amamos pra caramba! Eis um pouco dele. 12 anos hoje. Parabéns, meu filho. Que Deus te proteja.