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A consciência
da finitude. Os questionamentos que renitiam em invadir-lhe a mente e a alma.
Alma? Para que, afinal, a vida? Por que encontrar a felicidade, justo aí? Seu
pai nunca mais veria. Seu cachorro
fora-se há tanto tempo, mal era recordado. Seus avós, já não os tinha tampouco.
Receberam o amor que mereciam? Um dia, todos os que amava, mal ou bem, também
se iriam. Ele também. Por que voltara a fumar, se queria retardar? Gostava. Tá.
Achava a vida sem vício algum uma chatice. Mas não era uma contradição? Era.
Talvez. Queria fazer tanta coisa, ainda.
Provavelmente
não era pra pisar o chão, ainda úmido pelo pano molhado que acabara de ser
passado. Mas ele pisou. E amanhã o pano teria que ser usado novamente.
Independentemente de suas pisadas. A poeira também fazia parte da vida. E o
gesto de tirá-la. Repetido por toda ela. Queria significar que a vida, tal como
pensamos conhecer, não para? A poeira só se mantém quando a vida acabou...
Esteja você morto, ou vivo.
As folhas e
galhos mais finos pareciam dançar ao som de Que
Reste-t-il De Nos Amours.... Sentia seu coração também batendo sob o
compasso da melodia. Que venham a poeira e os panos molhados... Non, Je Ne Regrette Rien. Sim! elas
ouviam! Seu balé era mais lento, agora. No compasso perfeito. Alguns galhos mal
se mexiam. O casal que passava ouviu e olhou. Dancem, dancem, aproveitem!,
pensou. Foram-se. Talvez não tenham tido coragem. É preciso coragem para ser
feliz. Milord! Lindo! Recomeçaram a
bailar freneticamente. E à primeira pausa também pararam. E depois continuaram
bem devagar. Viva! Voltaram a mexer-se no compasso seguinte. É... as plantas
ouvem e sentem. Como ele. Seria possível a melancolia e a felicidade
coexistirem? Duas crianças chispam pelo jardim. A mais velha pega a outra nos
braços. Parecem esvoaçar num largo salão de alfombra verde, bracinhos abertos redopiando
em torno do velho pé de caju doente. Seus galhos magros e descabelados, por sua
vez, embora esgotados, parecem sorrir agradecidos enquanto se deixam, sem
resistência, assenhorear-se pela toada e seus novos pares.