A verdade de Antoine
É quase 1h, e por acaso ouço e assisto Evidências. Fala de
amor, amor romântico, mas sinto só como amor.
Percebo que tento encontrar palavras, que entretanto me
faltam para dizer o que sinto.
Talvez, ia dizer, mas sem talvez, digo, faltam-me porque
quero encontrar aquelas que digam, sem dizer tanto...
Como se faz pra lidar com a falta, com a saudade, e com uma
mágoa que insistem em não morrer?
A forma pode ser baseada no respeito por essas escolhas
alheias, embora possam trazer uma espécie de amargor, e que em face delas se
entenda, embora, se deva com elas lidar apenas respeitando-as. Sem rebelar-se,
sem questioná-las. Apenas aceitando-as.
Sempre são dolorosos, e paradoxalmente prazerosos os
reencontros com essa saudade. Como se o contentamento por eles acontecerem, porque
você não se negou a confrontá-los, coexistissem com a tristeza. E tudo bem.
É meio como um enamorado renitente que ao ver o velho amor
se contentasse com essa troca minúscula.
E você sabe que o amor está ali porque se sente que tudo
faria por ele, precisasse. E que qualquer coisa triste que lhe diga respeito e
que se venha a saber ou conhecer basta para encomendar a lágrima indesejada. E
que qualquer coisa boa, o contentamento.
A amizade, a verdadeira amizade é meio assim, me parece. Pouco
importa seja, como nesses casos possa parecer, unilateral. E se é meio que
obrigado a saber conviver com a falta e todos os sentimentos que essa ausência
traz.
Evidências já se foram e o ambiente é tomado de há muito por
uma bossa nova com cheiro da brisa do Reno no meio inverno.
Parece, só parece ―
que não me atrevo a afirmar ―,
é até pior do que o amor que finda deixando um deles ainda amante. Nesses casos
parece, sempre parece, que um dia vai acabar.
Mas a amizade não. Esta, é possível afirmar, não tem fim.
Deve ser por isto a responsabilidade de que falou
Sain-Exupéry.
Ainda que quem cative não raro não se dê conta...