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Tenho alguma dificuldade para
achar 2016 um ano muito ruim. Claro que para o país foi terrível. Política e
economicamente desastroso, embora a economia tenha assim sido em boa parte pela
instabilidade política adrede preparada e levada a cabo pelos opositores ao
governo deposto: mídia hegemônica partidária, parcela do judiciário e de
membros do ministério público e da polícia federal, capital financeiro e
industrial interno e externo, governos estrangeiros — EUA à frente —, políticos
corruptos e descontentes, “legitimados” pelo apoio nas ruas de uma classe média
em grande parte manipulada pela mesma mídia, ou que simplesmente saiu do
armário onde se fechara envergonhada desde 1964, para fechar o ciclo. A
presidenta legitimamente eleita, digna (e inocente) foi deposta por um golpe
midiático-político-jurídico. Ali ficou claro que o Brasil permanecia sendo uma
republiqueta de bananas. Todo o respeito internacional se esvaiu. Em nome do
combate à corrupção, mas em verdade atendendo a interesses econômicos do
capital internacional, uma caça seletiva a políticos e empresários se instalou,
destruindo propositadamente nossas principais empresas e promovendo prejuízos
irrecuperáveis à economia nacional.
Por outro lado, mas ainda nesse
sentido, a morte de figuras exponenciais brasileiras e estrangeiras (Ferreira
Gullar, Fidel Castro, Carlos Alberto Torres, Ivo Pitanguy, Guilherme Karan,
Hector Babenco, Evaristo de Moraes Filho, Muhammad Ali, Cauby Peixoto, Tereza
Rachel, Umberto Eco, David Bowie, Gustavo Bueno Martinez, entre tantos outros),
as mortes de milhares de inocentes na guerra da Síria e em outras instaladas em
centros de interesse do capital, apoiadas, quando não patrocinadas ou
deflagradas pelo império estadunidense e seus companheiros na Europa, além dos atos
de revanche praticados contra inocentes na Alemanha e na França, para ficar só
nesses exemplos, tornaram o país e o mundo mais pobres, perigosos, intolerantes,
fascistas, racistas, xenofóbicos e misóginos. O ódio está em cada esquina, às
vezes dentro da própria casa do indivíduo.
Pessoalmente, sob o aspecto
particular, mesmo, o ano de 2016 foi ruim principalmente porque a minha mãe
sofreu um AVC, felizmente não hemorrágico. É um quadro horrível e imensamente
triste de se ver. Naquele momento eu tive medo, muito medo, um medo espetacular
de que ela viesse a falecer ou que a doença provocasse sequelas que a fizessem
sofrer. Felizmente, estas, evidentes e lastimáveis, não promoveram a destruição
e sofrimento temidos. Sim, a minha mãe tão querida hoje está numa cama em seu
quarto — reformado, meio como quarto de hospital, para aguardá-la nessa nova
fase de sua vida —, e assim deverá permanecer pelo tempo (longo, por suposto)
que vier a ficar conosco, necessitando de ajuda de terceiros para realizar as
mais triviais e básicas funções, negando-se até a sentar na cadeira de rodas. “É
ruim, André”, diz. E não é uma cadeira ruim.