sábado, 14 de dezembro de 2013

Onde

Não existe onde se possa ser mais feliz

Felicidade não escolhe onde

Mas pudesse...

Não existe felicidade

Sem essa música que só eu e você sabemos

Fico feliz

Você também fica

Ouvimos agora

Dançamos

Este lugar

E você se pergunta: por quê?

Aí você ouve:

Porque merecem, ora

sábado, 23 de novembro de 2013

O que pode ser melhor?

O que pode ser melhor do que cuidar do seu socorro pedido?

O que pode ser melhor do que limpar as dúvidas do seu horizonte,

Seus medos, anseios,... até tristezas?

O que pode ser melhor do que sua confiança batendo no meu coração?


O que pode ser melhor do que ler sua admiração em seu olhar,

Seu respeito, sua alegria,... até discordâncias?

O que pode ser melhor do que recordar de você, quando seu cheiro não está por perto?

O que pode ser melhor do que ouvir sua risada,

Ver seu sorriso, secar seu choro, confortar seu abraço no meu abraço?

O que pode ser melhor do que exercer minha obrigação, meu direito, meu prazer?

O que pode ser melhor do que estarmos juntos, até mesmo como agora,

Você no meu coração, no meu pensamento, nas minhas mãos que só escrevem?

O que pode ser melhor do que nossos dedos mindinhos entrelaçados,

Após te dar a bênção?

O que pode ser melhor do que ser seu pai?

O que pode ser melhor, meu filho, do que ter seu amor?


domingo, 10 de novembro de 2013

Testemunho

Pensava que vê-los envelhecer
Seria apenas ver diminuir-lhes a habilidade física e intelectual,
Um tanto bom de memória de hoje, perdida.
Pedia para vê-los envelhecer.
Só não iriam poder me acompanhar naquela ladeira toda,
Não conseguiriam talvez ir ao meu casamento.
Nem tomar algumas geladas comigo,
Sentirmos o cheiro do mato de fazenda e do asfalto enquanto eu dirigia, ele.
Não dar um passeio a pé pela orla, ela.
Ou deixá-la pagar meu lanche no shopping numa tarde qualquer,
Em que eu demorava a voltar ao trabalho depois de levá-la à médica,
Que ela só confiava ir, por pretexto pra levá-la, comigo.


Pensava que vê-los envelhecer
Seria apenas ver diminuir-lhes a vontade de ir a aniversários da família
Um tanto bom de memória de ontem, rememorada.
Pedia para vê-los envelhecer.
Só não iriam poder me acompanhar naquela viagem
Pra ver Mariana, e os parentes vivos, no Recife.
Não conseguiriam talvez ir àquela homenagem que receberia,
Nem comer um simples churrasco comigo,
Sentirmos o gosto bom do café da manhã de beira de estrada,
Enquanto eu dormia no banco de trás do carro, ele.
Não contar meus problemas, minhas angústias, meus medos, mesmo já adulto,
Pra não preocupar a ela.
Ou deixá-la me oferecer coisas de feira no supermercado,
Como se ainda não pudesse comprá-las.

Pensava que vê-los envelhecer
Seria mais ou menos assim, só.
Não é.
Vê-los envelhecer tem dor, também
Às vezes muita dor.
Muitas vezes.
Tem também muitos problemas,
Que às vezes chegam a impedir o que desejamos fazer.
É... até atrapalham nossas vidas.
Traz-nos novas e grandes e terríveis preocupações.
Vê-los envelhecer significa ser meio pai deles.
Só que enquanto eles sabem que são pai e mãe
A gente nunca conseguirá ser pai (ou mãe) deles completamente,
E a gente quer que eles jamais deixem de saber.
E agora não pensamos mais como filho, que precisa de conforto.
Mas alguém que tem que fazer o possível, e o impossível, para confortar.

Vê-los envelhecer às vezes dá uma tristeza tão grande..., tão grande!
E eu pedia para vê-los envelhecer.
E continuo pedindo.
E agradecendo...
Ah, que alegria que dá poder vê-los envelhecer...

domingo, 8 de setembro de 2013

Foi assim


Um dia ofereci minha vida

Sim, foi assim

Um dia, disse: leva-me, mas deixa-a

Sim, foi assim

Iria sem pensar duas vezes

Sim, foi assim

Não a leve, pedi

Leve-me, roguei

Ele a deixou, e a mim


Sim, foi assim

sábado, 7 de setembro de 2013

Vocês


O que pode ser melhor

Do que te ter comigo

Ter a você e a você outro

Melhor pudesse ter também

Você e a você outro

Vocês e outros poucos bastariam

Gosto é de ter vocês

Quantos mais de vocês melhor

terça-feira, 4 de junho de 2013

A árvore cupido

Tb pub. na Rev. da Assoc. Nac. dos Adv. da CEF
*Também pub. na Gazeta de Alagoas, Caderno Saber, out/2013

Não era um pé de laranja lima pra chamar de meu, embora eu já houvesse tido vários pés de laranja lima, sem de pés de laranja lima se tratarem de fato, suficientes embora para imitar a personagem do José Mauro de Vasconcelos nos meus devaneios e fantasias de criança que lera o livro e assistira à novela, não necessariamente nessa ordem. Mas não era. Até porque árvore frondosa, que diferentemente de um pé de laranja lima me permitia subir em seus vários galhos grossos e fortes até bem alto, tão alto que quem passasse pela rua onde eu morava poderia não me ver, bastava que eu assim desejasse. Inclusive ela.

Por essa época, eu nem era um pirralho do tope do garoto de “O meu pé de laranja lima”, tampouco um adolescente. Tava naquela chamada fase abestalhada. Isto. Era só um bestão[1], como a gente diz aqui em Maceió. Tanto que a razão do meu viver, enquanto prazer, além de rachar[2], jogar ximbra[3], soltar peão e jogo de botão era me apaixonar pelas meninas do colégio. Ou de onde viessem. Foi lá que a vi pela primeira vez. No Imaculada Conceição, na Pajuçara. E me apaixonei de cara. Claro! Aliás, eu e certamente a metade dos meus colegas de escola.

Aqueles incríveis olhos azuis, aquela tez alvinha que parecia ia rasgar-se ao mais leve esgarçar, de tão fininha que era, os cabelos cor de ouro... O que mandei de bilhetinho dentro do caderno dela, de chiclete dentro da sua bolsa... Sem contar os passeios de bicicleta pela frente de sua casa na esperança de vê-la, de um oi, um aceno, um sorriso, e até de algumas palavras (as perguntas já estavam prontas para essa hipótese, uma vez ou outra alcançada). Aliás, caro leitor, a casa dela ficava a menos de cem metros da do papai aqui! Ha-ha-ha! O que eu poderia querer mais?

O fato, porém, é que perto ou longe, disso não saía não. Nem no colégio, nem fora dele. Só me restava passar as muitas horas na velha árvore, onde ninguém podia me ver, trocando das mais doces às mais candentes palavras de amor com a minha lourinha imaginária, indo dos abraços aos mais tórridos beijos, todos praticados no âmago da minha fantasiosa cabeça.

Estava uma tarde num desses meus encontros com minha namorada, dirigindo-me ao mais alto dos galhos da minha amiga e confidente árvore, quando pela primeira vez em tanto tempo senti meu corpo desequilibrar a um passo em falso, distraído que estava com sua beleza. Juro! Nesse dia eu a desenhei em minha imaginação tão especialmente linda, que completamente embasbacado com o resultado não percebi que o último galho onde deveria apoiar o pé estava situado um pouco mais acima de onde calculei deveria fazê-lo. Só deu tempo de ouvir o barulho do galho sendo arranhado pela pressão que fiz com a perna, tentativa última de evitar a queda, e de sentir o banho de adrenalina por dentro.

Quando recobrei os sentidos já estava no hospital. Disseram-me que aterrissei sobre a capota de um carro que vinha passando pela minha rua. Embora o veículo houvesse amortecido a queda, caíra de costas, de modo que me machucara e ficara desacordado por algum tempo. O motorista, que para minha sorte passava com sua mulher e filha no exato momento em que despencava, socorreu-me e ligou para meus pais, que já estavam comigo quando acordei, são e salvo. No dia seguinte já teria alta.

Pela manhã bem cedo, acordei com muita fome e doido pra cair fora dali. Antes fui informado que a família que me socorrera deixara a filha sob os cuidados de minha mãe no hospital, para me visitar, enquanto iam ao trabalho. Soube que ela insistira muito, embora estivesse no horário da escola, porque estaria muito preocupada comigo. Era minha colega da escola, disse-me mamãe. “Qual o nome dela?”, perguntei. “Ih, não sei... Bom, você já vai saber. Seu pai foi buscá-la na porta do hospital.”

Por alguma razão que não me permiti nem sonhar pudesse ser, senti um rápido calafrio de ansiedade. Ouvi os passos de meu pai e de mais alguém. Jamais confundiria os passos dele em qualquer lugar onde eu estivesse. Uma leve batida (toc-toc), o movimento da maçaneta, um mínimo ranger de porta mal lubrificada — quase imperceptível para outros ouvidos menos atentos que não os meus naquele momento... A porta finalmente se abre por completo. Ela entra.






[1]Bobo, tolo

[2]Jogar bola, bater pelada

[3]Bola de gude

sábado, 30 de março de 2013

Amigo*


http://keepstrong.files.wordpress.com/
Tempo houve pensei
Amigo só de infância
Tempo depois mostrou
Amigo não tem época

Tempo houve pensei
Amigo é para sempre
Tempo depois mostrou
Amigo pode vir a ser atemporal


http://sevenarts.com.br/

Tempo houve pensei
Amigo, sua voz presente, necessário?
Tempo depois mostrou
Amigo sem ouvi-lo, boa lembrança


Tempo houve pensei
Amigo bastaria saber tê-lo
Tempo depois mostrou
Amigo, afeto não basta


http://2.bp.blogspot.com/


Tempo houve pensei
Amigo, prescindível presença
Tempo depois mostrou
Amigo, próximo esteja






Tempo houve pensei
Amigo cuidar não se há de
Tempo depois mostrou
Amigo guardar é pra se


http://michellyribeiro.files.wordpress.com

Tempo houve pensei
Amigo melhor que o amor
Tempo depois mostrou
Amigo ao lado do amor


Tempo houve pensei
Amigo pra sempre lembrar
Tempo depois mostrou
Amigo é pra estar


Tempo houve pensei
Amigo para a vida toda
Tempo depois mostrou
Amigo, (ontem), hoje e amanhã
________________

(*)Poema inspirada no meu amigo-irmão Marcelo Malta (que não foi meu amigo "de infância", tampouco fora colega próximo na adolescência), que me mostrou, involuntariamente, e eu a ele, da mesma forma, lá pelo nosso ingresso no mundo adulto, recém-saídos da Faculdade de Direito, que uma amizade verdadeira e quase diariamente cultivada pode surgir em qualquer época da vida e manter-se, arrisco, por toda ela, tão viva e atuante que, permitam-me, fica até fácil falar dos "feitos" do passado, tão comum em reuniões de amigos (farras, em bom português, que não vou eu, logo eu, tucanear a farra): eles não param de atualizar-se. Obrigado, velho. Muito obrigado.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Com Ranulfo, na beira-mar


Estou na beira-mar da Pajuçara. Antes, pela manhã, tinha ido à praia no Ipaneminha, restaurante que existia por lá, cujo trecho de praia em frente foi assim batizado inspirado no Ipanema dos cariocas, naquela época ainda fonte de inspiração para o país inteiro. O Ipaneminha acabou. Mas Ranulfo ficou. E assim se vão tantos anos, e a vitamina de banana que fazíamos na cozinha de D. Nazaré permanece aguçada em meu paladar e meu coração. Quero falar dessa época porque é das mais saudáveis de toda minha vida, só comparável àquela que agora me concede o prazer de lembrá-la com tanta alegria, tanta saudade, tanto amor.

Estou na beira-mar da Pajuçara, uns cem metros depois dos antigos Sete Coqueiros, sentido Ponta Verde. Já tomei banho. Almocei sofregamente pra não perder muito tempo de vida — o adolescente está sempre correndo quando não é pra estudar — e parti para a casa do Ranulfo. D. Nazaré ainda era viva. Sim, meu amigo já sentiu das piores dores da vida, amplificada porque precoce. “Engraçado” que por essa época não senti a mesma dor que sentiria agora. Fiquei ao seu lado, sofri com ele, mas hoje sentiria muitíssimo mais. Coisas da adolescência, acho, fase da vida em que nos tornamos naturalmente mais egoístas.


Estou na beira-mar da Pajuçara. E lembro da invasão vespertina da sua cozinha. Bastava o pão chegar que a gente invadia, entre cinco e seis horas da tarde. Vitamina de banana e pão quentinho com manteiga. “Porra, sacanagem”, fingia protestar o Ranulfo, preocupado porque “arrasávamos” a janta do seu povo. Nem tão no fundo, adorava aquela invasão. Porque ela nunca estava nessas horas, não lembro. Estivesse não estaria a salivar agora, porque a vitamina turbada inexistiria.

Quando tive hepatite, lá pelos meus quinze anos, Ranulfo ia me visitar todos os dias e às vezes levava côco verde pra mim. Era meio viado o gesto, por isto mesmo bonitinho até umas horas. E eu o olhava com amor enquanto ele se acomodava em alguma almofada após invadir meu quarto, como se estivesse em casa (e o faz até hoje), pensando no privilégio de ter um amigo desse.

Estou na beira-mar da Pajuçara, sentado com ele e outros amigos “sem fazer nada” no banco de concreto em frente à sua casa, na hoje Av. Sílvio Viana. Acabáramos de aperrear o Jalbinhas — pivete irmão dele —, de quem há pouco fugíramos do pedaço de tijolo que tinha nas mãos. Férias inesquecíveis as que vivia, ano após ano.

Ranulfo tinha admiração por mim. Quem pode gostar do que não admira? Sua simplicidade, generosidade e lealdade me conquistaram sem que eu me desse conta, na fase mais inocente de nossas vidas. Nunca senti “um família” demonstrar o que ele me devotava. Foi quem sem querer me fez ver, quando ainda me punha a filosofar, que o coração não necessariamente está tomado pelo sangue do parentesco. No coração dele corre o meu sangue. No meu, o dele.

A vida não conseguiu nos separar. Somos amigos próximos, até hoje. Nunca conseguimos ficar longe um do outro por muito tempo. Ele acaba de realizar mais uma conquista, que muito me alegra, claro. Fico então a aguardá-lo, sabendo que brevemente estará de novo a nutrir-me com sua amizade, quase diariamente.

Estou na beira-mar da Pajuçara. No banco em frente à hoje Av. Sílvio Viana. Estou de Katina Surf nos pés. Bronzeado e feliz. Estou a lembrar-me, bem de perto e sorrindo, do meu amigo Ranulfo.

Saudades do Poço


Derramando em meus olhos
Ia a luz a alegrar-me
Com o calor bom
Do povo daquele poço

Coração reclamava
Enquanto sem jeito explicava
Hoje não podia beber
Do povo daquele poço

Peito doía feliz
A alegria de saudade boa
Dessa vez não fui comer
Do povo daquele poço

Cinco anos parece
Vida inteira feliz
Amanhã hei de me aquecer
Do povo daquele poço

Fome do seu céu
Sede de seu calor
Queria mesmo era afundar-me
No regato daquele poço

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O quadro


Podia ser o perfume de um quadro. De uma paisagem pintada num. Via todo ele num ângulo de quase 180º. Quadro com cheiro de terra e mato molhados pela repentina queda d’água, sem dar sinais prévios aos desatentos como ele de que viria. Tão rápida veio, quase tanto se foi. Quadro bonito, meio escuro. O sol já se pôs. Só a lua cheia o clareava. Ideal.

A boa música que ouvia no aparelho eletrônico e o remetia a tantas boas sensações e lembranças formava belíssima composição com o som que vinha do quadro. O vento nas folhas da mata e suas fruteiras produzia sinfonia que ora aumentava ora diminuía de volume. E aí via mais do que a natureza exposta no quadro vivo, sentia mais do que seu cheiro, ouvia mais do que sua música.

Às vezes o cheiro se confundia com o da mulher. O cheiro bom da mulher que discretamente vinha de vez em quando ver se ele precisava de alguma coisa. Não queria interrompê-lo. Sabia que ele escrevia enquanto contemplava o quadro que parecia confundir-se com a sua vida, agora. No momento em que ela se achegava era tomado também pela sensação de que o quadro perfumado e vivo alcançara a completude. Foi quando percebeu que do quadro também exalava calor. Aquele que o aquecia, liberando a passagem do vento frio, compensando-o.

Voltou a chover. Mais forte e com vento. Sentia em seu rosto, mãos e braços os raros finos pingos que conseguiam alcançá-lo. Mesmo assim não se movia, senão pelos dedos quase frenéticos a teclar. O mais — ver, sentir, ouvir — era imóvel que o fazia. Como que a tentar fotografar para sempre a imagem, o vento e o cheiro que vinham daquele quadro. Daquele quadro e daquela mulher com um cheiro tão bom, que de vez em quando o compunha. E que nesse momento era fotografado em sua mente e coração. Para eternizar-se.