segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Solidariedade jovem?

Faz um tempo. Não lembro quanto. Hummm... Vá lá. Uns 04 anos. Por aí. Li, em algum periódico, alguns depoimentos de filhos de pais que eram jovens à época da ditadura, ou aos seus arredores. Por volta dos anos 60/70, mais ou menos. Diziam lamentar não terem vivido esse período. Sentiam uma inveja gostosa dos pais. Não pela ditadura. Óbvio. Aliás, nem tanto: há quem sinta saudade e até deseje seu retorno. Paciência. Lamentavam porque percebiam que os jovens de então eram mais... numa palavra: solidários. Hoje, a juventude não se ressentiria só da falta do inimigo visível contra quem lutar. Haveria uma inércia para o fazer pelo bem comum, ausência de luta por um ideal de mundo melhor. Pior: ausência do próprio ideal.

Não parecem errar. Talvez estejamos vivendo, mesmo, e em toda a sua crueza, “cada um por si”. O individual se sobrepondo maciça e, não raro, cruelmente, ao coletivo. A ignorância da política, como fruto, em parte, de um lado, do desinteresse decorrente do doutrinamento contumaz e proposital de que todos os políticos são desonestos, ou, no mínimo, incapazes de enxergar além do próprio umbigo; de outro, da constatação de que em grande medida é assim mesmo. Mas desconhecendo que, em outra, considerável, não o é.

Até nas pequenas transgressões, tão comuns em jovens adolescentes, há diferenças de há 15, 20 anos. Garoto que conseguisse a prova a ser aplicada no dia seguinte “emprestava-a” praticamente a toda a classe, para ser copiada (cuidando em errarem uma ou duas questões, para não dar na vista). Solidariedade à maneira deles. E daí? Hoje, quem a conseguisse, não raro ficaria pra si. Percebe? Até aí, no “ilícito”, ditaria o individualismo, o egoísmo, o “vou me dar bem e os outros...”. Como diz a música: “os outros são os outros. E só.” O mesmo nos famosos trabalhos em equipe. A maioria dos que se consideram aptos a fazer um bom trabalho prefeririam não fazê-lo em equipe, para não ter que dividir os louros com os menos preparados.

Veja-se. Não se está a falar de grandes causas. De enfrentar repressão, cadeias, tortura... Está-se a dizer de coisas pueris, singelas circunstâncias das quais a solidariedade seria indissociável. Não precisaria sequer coragem. Não custaria quase nada. Só solidariedade.

Ouvi muitos comentários assim de acadêmicos estagiários. Pessimismo? Exagero? Equívoco dos jovens do periódico? Não acredito. Hein? “Como será o amanhã?” Ah! Sei lá. “Responda quem souber.”
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Escrito em jul.2006
Crônica publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 25/07/2006

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