Faz um tempo. Não lembro
quanto. Hummm... Vá lá. Uns 04 anos. Por aí. Li, em algum periódico, alguns
depoimentos de filhos de pais que eram jovens à época da ditadura, ou aos seus
arredores. Por volta dos anos 60/70, mais ou menos. Diziam lamentar não terem
vivido esse período. Sentiam uma inveja gostosa dos pais. Não pela ditadura.
Óbvio. Aliás, nem tanto: há quem sinta saudade e até deseje seu retorno.
Paciência. Lamentavam porque percebiam que os jovens de então eram mais... numa
palavra: solidários. Hoje, a juventude não se ressentiria só da falta do
inimigo visível contra quem lutar. Haveria uma inércia para o fazer pelo bem
comum, ausência de luta por um ideal de mundo melhor. Pior: ausência do próprio
ideal.
Não parecem errar. Talvez
estejamos vivendo, mesmo, e em toda a sua crueza, “cada um por si”. O
individual se sobrepondo maciça e, não raro, cruelmente, ao coletivo. A
ignorância da política, como fruto, em parte, de um lado, do desinteresse
decorrente do doutrinamento contumaz e proposital de que todos os políticos são
desonestos, ou, no mínimo, incapazes de enxergar além do próprio umbigo; de
outro, da constatação de que em grande medida é assim mesmo. Mas desconhecendo
que, em outra, considerável, não o é.
Até nas pequenas
transgressões, tão comuns em jovens adolescentes, há diferenças de há 15, 20
anos. Garoto que conseguisse a prova a ser aplicada no dia seguinte
“emprestava-a” praticamente a toda a classe, para ser copiada (cuidando em
errarem uma ou duas questões, para não dar na vista). Solidariedade à maneira
deles. E daí? Hoje, quem a conseguisse, não raro ficaria pra si. Percebe? Até
aí, no “ilícito”, ditaria o individualismo, o egoísmo, o “vou me dar bem e os
outros...”. Como diz a música: “os outros são os outros. E só.” O mesmo nos
famosos trabalhos em equipe. A maioria dos que se consideram aptos a fazer um
bom trabalho prefeririam não fazê-lo em equipe, para não ter que dividir os
louros com os menos preparados.
Veja-se.
Não se está a falar de grandes causas. De enfrentar repressão, cadeias,
tortura... Está-se a dizer de coisas pueris, singelas circunstâncias das quais
a solidariedade seria indissociável. Não precisaria sequer coragem. Não
custaria quase nada. Só solidariedade.
Ouvi muitos comentários
assim de acadêmicos estagiários. Pessimismo? Exagero? Equívoco dos jovens do
periódico? Não acredito. Hein? “Como será o amanhã?” Ah! Sei lá. “Responda quem
souber.”
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Escrito em jul.2006
Crônica publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 25/07/2006
Crônica publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 25/07/2006
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