quinta-feira, 10 de abril de 2014

Aniversário

Foto no Hotel Jatiúca - Onde meu pai,
médico, fora homenageado pela Santa 
Casa de Misericórdia de Maceió.
Por que me sinto triste?
É meu aniversário e me sinto triste.
Saio do quarto, de manhã ainda cedo, meu filho já está aqui pra me ver.
Dá-me um abraço, meio desconcertado, mas tomado de amor.
Minhas palavras não fluíam com facilidade, pareciam querer ficar guardadas enquanto conversávamos, percebia.
E agora, enquanto escrevo, ele ainda permanece comigo, deitado bem próximo, meio cochilando.
Mas ainda me sinto triste.
Recebi felicitações várias, já, pela passagem de meu aniversário.
Inclusive da mulher que escolhi pra tentar fazer feliz, e de minhas duas filhas tão incondicionalmente queridas.
Todas me emocionaram.
Mas ainda continuo triste.
Há pouco estive com minha mãe em seu quarto.
Disse-me mais de dezena de “te amo” para mim, com olhos e gestos que não diziam outra coisa.
Tão linda, tão boa, tão mãe...
Mas ainda me sinto triste.
Entretanto, é meu aniversário.
E eu queria estar alegre, como vejo tantas pessoas que curtem mais aniversário do que eu ficarem.
Sim, porque eu também não sou, tipo assim (como dizem os jovens de hoje) louco, loucaço pelo meu aniversário.
Meu prazer é mais introspectivo e intimista, além de reflexivo, sempre percebi.
Mas junto, ou ao lado, normalmente está a alegria.
Hoje me sinto especialmente triste, porém.
Daí ter vindo escrever.
Tentativa de tentar me entender e ao que sinto hoje.
E de afastar de mim a tristeza de hoje.
Especialmente hoje.
Há pouco olhei meu filho que agora talvez já tenha entabulado o sono.
E ao vê-lo e o quanto o amo, pensei nas outras pessoas a quem também amo e que merecem e esperam a minha alegria, pelo menos boa parte do quanto eu próprio espero e mereço de mim mesmo.
Entretanto, é meu aniversário e continuo me sentindo triste.
Pensei também em você.
Pensei foi o tempo todo.
Desde que me acordei, penso em você.
Especialmente hoje, talvez porque hoje seja meu aniversário, como você também sabe.
Então sinto que tenho que segurar as lágrimas, ou deixá-las escorrer pelo meu rosto, soltando a natureza que me fala por meio delas e do aperto que meu coração me dá, ou sofre.
O fato é que elas estão em mim, adornando minha tristeza, ou querendo justamente limpá-la da minha alma.
E me dizendo, com a sua luz molhada, que você não me quer triste.
Então deixo que elas venham e se juntem a nós num abraço de filho pra pai.
Talvez o maior abraço que já nos demos.
Talvez parecido como o que há pouco voltei a dar no meu filho, ao nos despedirmos para daqui a pouco.
E dessa vez foi tão intenso...
Que talvez ao abraçá-lo tenha dado esse abraço em você também.
Não duvido você o tenha guiado até aqui logo cedo para me ver e me mostrar o seu amor por meio do amor dele.
Talvez também para lembrar-me de que por mais que eu tenha direito de estar triste, ela deve em algum momento ceder à alegria.
Por eles, por mim. E hoje, principalmente hoje, por você.
E então ouço você me dizer pra eu ter um “feliz aniversário”.
E sinto que na medida do possível eu devo procurar ter um “feliz aniversário”.
E tentar não me sentir triste.
Porque eu agora descubro que na verdade estou triste por você, e você não merece ser o motivo de minha tristeza, senão de minha alegria.
Ainda que essa tristeza por você signifique a tristeza pela sua ausência, tão recente.
Então eu choro mais um tanto, do tanto que já chorei.
Mas pareço encontrar forças para ficar alegre (ou tento acreditar nisto).
E as lágrimas parecem se transformar em lágrimas de agradecimento e de alegria.
E vejo que se a tristeza é pela sua falta, a alegria deverá ser por você.
Então vou tentar ficar com alguma.
Hoje é meu aniversário de 50 anos.
Dessa vez, especialmente, estou e estarei com poucos, muito poucos.
E por mim e por eles vou tentar ficar menos triste, ou alegre, vá lá.
Vou tentar.
Principalmente por você, meu pai.