segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Confraternização de ex-alunos

— Hummm... O Ambrósio acaba de chegar!
— Ihhh! Tô vendo. Carrão, hein?
— O que deve estar fazendo?
— Sei lá... Mas boa coisa deve ser não. Lembra da fama do pai? Tal pai, tal filho, minha querida.
— Na certa, na certa. Se puxou ao genitor, deve estar roubando até pirulito de criança. Ai ai...
— Mas ainda tá bonitão. Olha só! Nem parece que se passaram vinte anos, desde que saímos do colégio.
— Humpf! Deve estar ainda mais metido a besta que antes.
— Isso lá é. Rico e ainda gato... Deve estar insuportável!
— Ouvi dizer que se separou daquele tribufu da época de colégio. Lembra dela?
— Não diga!!! Também, nunca entendi aquele namoro! Um gostoso desse namorando com aquela cdf feiosa... Nunca entendi o título de Rainha do Milho que recebeu naquele São João.
— Nem eu. Só pode ter sido marmelada.
— Modéstia à parte, qualquer uma de nós dava de goleada nela.
— Ele ainda continua uma graça.
— Ah! Mas eu nunca quis nada com ele, não! Homem metido demais! Tô fora, minha filha.
— Nem eu, querida! Imagina! Esse tipo de homem é só pra olhar. E olhe lá! Sem trocadilho.
— Claro. A gente tem que se dar ao valor, não é?
— Vou te contar uma coisa. Jura segredo?
— Claro, amiga! Pode dizer.
— É que lembrei de uma vez em que ele tentou me beijar enquanto dançava comigo.
— Jura? Pois nunca vi Ambrósio dançando com você. Quando foi?
— Ah, nem lembro mais. Só recordo que ficou me apertando, todo fogoso, com aquele olhar de homem apaixonado. Caidaço por mim. Mas não sou doida, né? Tinha que me dar ao respeito. E foi o que fiz. Pedi licença, e deixei ele sozinho na pista de dança!
— Humm... Sei... Caramba, que memória a minha... Não lembro! Que coisa, né? Mas claro que acredito... Você jamaaaisss iria mentir pra mim...! Mas quer dizer que o peste olhava pra você também? E dizia estar apaixonado por mim, o cachorro!
— Por você?
— Ah! Contei e pronto. Mas peço segredo também. Tanto tempo... Nessa época já namorava a mocréia. Prometeu ficar comigo, se eu o quisesse. Já pensou?
— Não acredito! Quero dizer... Nunca pensei! Você? Menina, não fosse minha melhoooor amiga, juraria que está mentindo.
— Por quê? Só você pode despertar interesse no Brosinho?
— Brosinho?
— Era assim que me pedia para chamá-lo. Isto antes, claro, de eu colocá-lo em seu devido lugar.
— Pois nunca notei nada entre vocês também. Bom, desculpe. Herrrr, acredito em vc... Ainda bem que resistimos, então. Cada uma!
— Ai, lá vem ele.
— Tá nervosa? Não se preocupe. Como ele deve vir falar primeiro comigo, eu o distraio até você se acalmar. Ihhh! Tá vindo!
— Desculpe, amiiiga. Mas quanto a esse aspecto, divergimos! Quer pagar pra ver como ele virá falar primeiro comigo?
— Chega um pouco pra lá.
— Chega você. Assim, tá impedindo sua visão.
— (...)
— (...)
— Passou?! Não nos viu!?!?
— Ai, meu Deus!!
— Ambrósio!!!
— Ambrósio!!! Ei, Ambróóósio...!
— Sim? Ah! Olá, como vão?
— Tuuudo bem, Ambróóósio!!! Pensei que não ia falar conosco!
— É!!! Também! Também!
— Desculpe minha indelicadeza. Não tinha visto as senhoras. Muito prazer! Mas..., ajudem-me: são mães de quem?
— (...)
— (...)
— Grosso.
— Feio.
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Escrito em jan.2007
Publicado no jornal Gazeta de Alagoas, Caderno Saber, de 03/02/2007
Foto em http://www.colorizemedialearning.com/

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