quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tudo implicância

Crônica
Já impliquei com “brother”, “tá ligado”, e com o “então” paulista. Às vezes implico. Mesmo. Assim..., só pra implicar. Acho que à falta do que fazer. O que deve significar que tenho andado muito ocupado, porque não tenho implicado com coisa alguma nos últimos vários dias. Últimos vários dias: tempo pra caramba!

Tem gente muito pior que eu. Tem gente que, por exemplo, implica gratuitamente com o presidente Lula. Não raro a implicância explícita esconde a implícita, que nada mais é do que puro preconceito. Atualmente implicam com o fato de que o Presidente do Brasil é respeitado lá fora, “como nunca nesse país” o foi. Porque o cara disse que ele, o Lula, é o cara. Falaram que o cara (aquele que disse que ele, o Lula, é o cara) foi irônico. Não vi ironia alguma. Porque o presidente mandou soldados servirem em missão no exterior. Porque vai emprestar uma graninha para o FMI (hehehe..., esse Lula...). Porque desdenhou da “crise”, tachando-a marolinha. Oxe! E se não era, tampouco está sendo uma tsunâmi. Porque “nunca antes na história desse país” nossa economia esteve tão forte. E até porque o homem foi dizer que não gostava de ler. Fizeram um bafafá danado! E agora o cara é obrigado a gostar, é? Aliás, a história do desamor do presidente à leitura só foi agora citada porque é sempre requentada, logo, atual. Mas eu falava das minhas implicâncias...

Pois é, tem uma coisinha, da mesma turma das duas lá de cima — até porque não tenho implicância com o presidente —, que tá me aperreando, por demais. Pior: já me peguei falando a dita cuja, portanto, contaminei-me também. Refiro-me ao véi. Diminutivo de veio. Posso pôr o acento agudo? Sim, porque embora véio não exista na língua pátria (acho que não, né?), deve ser acentuado ao menos para diferençá-lo da forma verbal veio, do verbo vir. Pôxa, como tô ligado (ops!). Foi o computador que, atrevidamente, tirou o acento. Véio, por sua vez, é a forma diminuta de velho. Pronto. Explicada a origem.

Só que agora, véio (isto é, caro leitor), é um tal de véi pra lá, véi pra cá... A pivetada (e nem tanto) não diz uma frase, quando consegue dizer uma inteira (olha a implicância de novo), sem o famigerado do véi. Mas tudo tava no campo do suportável quando a Nandinha, minha filha mais nova, repetiu-o umas cinco vezes, em no máximo(!) trinta segundos. “Filha! Qué-qué isso? Até você?” “Foi mal pai”, respondeu, meio descabriada-sonsa-sorrindo. Senti que era hora de exorcizar meus demônios. Vim escrever.
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Também publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 06/05/2009