terça-feira, 18 de março de 2008

O Nélson: inocente

Crônica
Conheço-o pouco. Mais de cumprimentar. Opa! Bom dia! Tudo bem? Não mais ou muito mais do que isso. Mas a solidariedade prescinde de conhecimento; a gente simplesmente sente. Acompanhei pela imprensa a terrível experiência que passou quando da deflagração da muito bem-vinda (como as demais) Operação Carranca, da Polícia Federal. Fora preso (prisão temporária, para investigações), previamente algemado. Sua foto escancarada na mídia. Identificado como engenheiro da empresa em que trabalhava, embora não seja, nem nunca tenha sido. Omitirei seu nome completo por considerar provável assim prefira.

Tomo conhecimento, há alguns dias, de que a ação penal subseqüente fora trancada em relação a ele. Vale dizer: absolvido. O Ministério Público Federal culminou por entender “estar ausente a justa causa para o prosseguimento do processo criminal” contra ele movido, razão pela qual requereu o noticiado trancamento.

Nos termos da sentença, vaticinou o respectivo Juiz Federal que o então denunciado demonstrara “cabalmente que suas atribuições como funcionário (...) restringem-se ao controle do recebimento e repasse dos recursos federais destinados a outras entidades convenentes. Não tem ele qualquer atribuição para realizar vistorias ou fiscalizações nas obras soerguidas com recursos repassados (...)” pela empresa em que trabalhava. E conclui o magistrado: está “cabalmente comprovado que Nélson não tinha qualquer possibilidade de interferir na realização do objeto do contrato, sequer em tese poderia ter cometido o delito previsto no art. 96, IV, da Lei 8.666/93, único que lhe foi imputado pelo MPF”.

Não li, vi ou ouvi, em lugar algum na mídia — que, entretanto, antes informara com estardalhaço a sua prisão —, a notícia de sua absolvição. Pode ser que tenha havido, e eu é que não tenha tomado conhecimento. Pode ser. Mas esses fatos quase nunca viram notícia. Qualquer modo, está aí, nestas poucas linhas, o desenlace do drama do Nélson, ao menos daquele vivido naquelas paragens; a ratificação pública de sua inocência, maneira que encontrei para expressar-lhe a minha solidariedade pelo terrível gravame sofrido, agora aliviado (sarado, certamente não).

Nunca mais o encontrei, embora quase nunca coincidia de vê-lo amiúde, antes daquela constrangedora (para dizer o mínimo) e traumatizante experiência vivida. Soube que está, agora, aposentado. Um abraço, Nélson. Boa sorte.
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Também publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 28/03/2008.