domingo, 11 de março de 2012

A falta que faz um bom lavado de roupa

A providência adotada (ajuizamento de ação civil pública para forçar o Dicionário Houaiss a excluir, dos significados do substantivo cigano, aqueles que lhe são pejorativos) é um disparate. Tão disparate que se custa a crer seja verdade, ao menos num primeiro momento. Afinal, a indigitada palavra (cigano), dita pejorativamente (ou preconceituosamente), tem, mesmo!, os significados apontados pelo dicionário. Sempre teve! Não há como negar-se. Retirá-los de um dicionário que, servindo exatamente ao que se destina, contempla-os, é mais do que varrer a poeira debaixo do tapete. É como maquiar uma foto (colocando alguém ou algo que nela não está, ou excluindo a coisa ou pessoa efetivamente retratada) ou apagar o passado (não adianta: sempre estará lá); é chamar de revolução o mais ignóbil golpe; é, enfim, exercício patético da neurose do politicamente correto. Ou simplesmente hipocrisia. Ou simplesmente falta de um bom lavado de roupa. Ou tudo junto. A ser assim, vai a minha sugestão: exclua-se a palavra "pejorativo". Talvez desse modo tudo que o seja (pejorativo), acessório que é, vá junto. Aí a ação até perde o objeto...