domingo, 4 de outubro de 2015

Rendendo-me à saudade (e à tristeza)*

*Tb pub no Caderno SABER, do jornal GAZETA DE ALAGOAS, de 03.10.2015

Sinto saudades de ti
Suas mãos parecem com as minhas
Eu te amo tanto, pai

Sinto você por perto
Queria saber está comigo
Eu te amo tanto, pai

Não há dia sem você
Em todos lembro de ti
Eu te amo tanto, pai

Vejo alguém que dirige bem
Você que me ensinou
Eu te amo tanto, pai

Nunca me deixou faltar nada
Ao ponto de que nem percebia
Eu te amo tanto, pai

Olho de novo pra minhas mãos no teclado
Gosto de olhar as suas nas minhas
Eu te amo tanto, pai

Quero tanto que você esteja bem
Quero tanto que você não esteja mais sofrendo
Quero tanto sentir você de novo comigo

Suas pernas magrinhas
Seu bíceps, que, eu pequeno, você me mostrou era grande
Sua presença que nunca me faltou

Seu desejo eu estivesse próximo
Seu pedido de socorro, doentinho
Eu te amo tanto, pai

Ah, como sinto sua falta
Como sinto falta de tanta coisa
Eu te amo tanto, pai

Quando me vejo descartando a guerra
Lembro que assim era você
Eu te amo tanto, pai

Não há madrugada que não lembre
Você as desbravava
Eu te amo tanto, pai

Penedo, quatro horas da matina
Ah, pai, graças a Deus acordei para acompanhá-lo
Eu te amo tanto, pai

Consegui trazê-lo aqui
Essa escada você subiu
Eu te amo tanto, pai

Lagartixa, as mais diversas épocas
Desde festa de Santa Efigênia
Eu te amo tanto, pai

O trator, os pés de laranja
Os passarinhos que desisti de alvejar
Eu te amo tanto, pai

Fico imaginando, meu velho
O tanto que você me amou e não disse
Eu te amo tanto, pai

Lembro do seu pedido de socorro na madrugada
Tinha que ser eu
Eu te amo tanto, pai

E eu torcia que não houvesse esse pedido
Pelas duas razões
Eu te amo tanto, pai

Não queria que você precisasse de socorro
E não me sentia forte para ajudá-lo
Eu te amo tanto, pai

Lembro de tudo
Não há nada que me escape de você
Eu te amo tanto, pai

Ainda vejo sua cabecinha perto da minha
Quando são, e também quando doentinho
Eu te amo tanto, pai

Nada me era pior do que ir vê-lo naquele quarto
Tão fraquinho, tão indefeso
Desculpe-me, meu pai

Choro quando me decido a deixar você vir
Porque deixar significa sentir uma imensa saudade
E sempre tem sofrimento

Sinto tanto sua falta, meu pai...

Amor e amizade, por gosto*

*Tb pub no Caderno SABER, do jornal GAZETA DE ALAGOAS, de 03.10.2015

Nunca pensei que amizade fosse mais importante do que o amor. Acho que assim deduzi intuitivamente. Apesar das poucas e boas amizades. Ou baseado no amor de então. Mas até por ser de então, negaria o que digo. Não sei. Mas nunca pensei.

Pra mim o amor sempre esteve acima de tudo. Na pior das hipóteses seria tão importante quanto. Quanto ao que houvesse a ser comparado. O amor pra mim sempre foi o máximo. Mas até por ser assim, o próximo, se existisse, negaria o que digo. Não sei. Mas pra mim sempre esteve acima.

O amor sempre esteve além. Nada se igualaria. Nem a amizade. Nem a maior das amizades. Talvez porque o amor, o verdadeiro amor, pra mim sempre ocupasse o posto maior também na amizade. Nunca consegui entender o amor que não fosse amigo. Para ser amor, teria que ser amigo. O mais amigo. Mas nem por isto seria excludente. Até por ser amor.

Fui descobrindo, talvez por sorte, que amizades e amores sempre são substituíveis. Não que sejam descartáveis. Mas quando você pensa que são eternos, e (ainda) não são, a vida sempre lhe brinda com a possibilidade de nova amizade e novo amor. Acho, por isto, que o único amor e a única amizade eternos são aqueles que você tem quando morre. Serão eternos, aqui.


Gosto da ideia de amor eterno. Gosto também da de amizade eterna. Gosto mesmo é de ser amado. Muito amado. Amor e amizade. Porque gosto de amar.