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Uma família estava à porta da agência bancária — pelo menos parecia uma família. Havia alguns meninos e meninas, talvez outros adolescentes, e uns dois ou três mais adultos, sei lá, dirigia devagar, mas não estava olhando na direção da agência bancária, viu quase sem querer. Havia um abrigo, pelo menos para a chuva e desde que não fosse chuva de vento. Não é que estivesse chovendo vento. É que a chuva vinha acompanhada de muito vento, então ela te molha porque te pega de lado, daí a expressão, comum, pelo menos no nordeste. Viu lençois também, com eles. Devia estar frio ali. A noite estava fria. Vinte e um graus, vira minutos antes. E chovia. E ventava. E lá era beira-mar, como disse antes. Pra ele tava friozinho. Um friozinho gostoso. Pra ele, que tava abrigado e bem abrigado. Já pra eles...
Aquela imagem ficou na sua cabeça. Conversavam, ou discutiam, parecia, um ou outro em pé, gesticulando. Mais do que isto não viu. Suficiente pra mais uma vez pensar como nosso mundo é injusto. Uns privilegiados e com direito ao conforto e segurança, outros a tão pouco ou a nada. E não havia, estava convicto, uma só mísera razão que justificasse fosse assim. Cruéis essas coisas do capital... Não achava justo que uns poucos tivessem tanto, e outros tão pouco ou nada, na imensa maioria das vezes apenas porque teve a sorte de nascer numa família com alguma posse.
Pensou nos filhos. Pensava sempre neles. Tinha medo dos perigos que todos os pais devem temer. Más companhias, drogas, qualquer coisa que os fizessem infelizes ou lhes tornassem cidadãos indignos. Também se preocupava como estaria o mundo em que viveriam quando adultos estivessem, sabido que o presente não lhe trazia bom presságio. Mas nesse momento, aliviado, pensou apenas neles agasalhados e protegidos da chuva e do frio. E, assim pensando, limitou-se a olhar pro céu e agradecer o privilégio.