sábado, 11 de julho de 2009

O Zip-Zip e a Elita

Domingo desses acordei a fim. Não um a fim qualquer. A fim, mesmo! Não sei como é desejo de grávida (razões óbvias), mas menor foi não. Uma vontade da bichoca-lixa-preta-doida-da-pega-virada-no-créu!

Era num treiler, homônimo dele. Lá, limitando a Ponta Verde da Pajuçara. Bem nos Sete Coqueiros. Ou onde existiam. Os Sete peguei não, mas já vi foto. Final dos anos 1970 que, pivete, conheci. Aliás, antes a gente falava só setenta: todo mundo entendia. Virou o século, o mil e novecentos obrigado preceder. Saco.

O Galego era o proprietário. Gaúcho simpático, trabalhador, com um vasto bigode louro... e ostensivamente barrigudo. Tipo barriga de chope. Mas nem sei se era chegado à bebida. Por onde andará o Galego?...

Saudade do Zip... Do Zip-Zip. Forma carinhosa, a abreviatura. As gentes falavam assim: “Vamo pro Zip?” “Vou depois da missa, ou vou depois do jogo (no Trapichão)...” Início da noite. Domingos felizes, emocionantes pouco não, vivi ali. Devia ter uns 12 pra 13 anos. Era o maior ponto de encontro da época. Pra lá ia gente de todas as idades, mas os jovens preponderavam. Paquera e namoro corriam soltos. Não me recordo bem, mas parece que 10 horas era o limite, já que tinha escola cedo segunda-feira.

Naquele domingo acordei com a vontade já descrita acima. O pão seda especialmente macio, a carne moída perfeitamente temperada, a tenra salsicha preguiçosamente deitada sobre. Humm... Tão simples quanto gostoso. A boca salivando, a sua imagem gravada na mente, e a tão cruel quanto frustrante certeza de que no máximo comeria um cachorro-quente qualquer, num carrinho qualquer, de um canto qualquer dessa Maceió de hoje.

Uma vez apareceu por lá uma stripper. Fui ver. Gelei. Era a Elita. Trabalhara na casa de meus pais. O seu homem a deixara pinel. Doidinha, doidinha, coitada. Várias vezes internada. Vez por outra aparecia lá em casa para nos visitar. A gente — eu e minha irmã mais velha — morria de medo. Não demorou, encheu de gente pra ver. Enquanto dançava e cantava, ameaçando tirar os trapos que mal cobriam seu maltratado e envelhecido corpo, ouvia-se os aplausos, gritos e coro jocoso de “tira!, tira!”, da platéia. Ao lado da compaixão que aquela cena triste me inspirava, um medo da peste de que a bicha me reconhecesse... Já pensou o mico? Até que chegou a polícia, cobriu-a e a levou. Duplo alívio.

Resultado: nas minhas lembranças do Zip e daqueles domingos, a Elita. Pobre Elita. Soube que descansara. Que Deus a tenha!
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Enviado para publicação no jornal Gazeta de Alagoas