domingo, 11 de dezembro de 2016

Sobre um baita advogado

Foto na fazenda Lagartixa, Capela, AL (2016)
Não sei se esse período de festejos juninos, em que se respira e revive essa que é a mais autêntica tradição nordestina, tenha contribuído para essas divagações. Na verdade, foi-me gentilmente solicitada uma crônica, sugerindo-me, inclusive, nela retratasse esta época, em que a santidade flerta com o pecado, e vice-versa — é que são três santos a capitaneá-la, e inobstante as mais diversas características de personalidade e vida de cada um, decerto tinham (ou têm) em comum o gosto pelo milho verde estalando na fogueira, pela pamonha, canjica e tantas outras iguarias dessa rica (e saborosíssima) culinária. O que não sei é se eram (ou são, lá no céu) chegados a um forrozinho, mas tampouco duvidaria. Afinal, que pecado haveria nisso, pois não? Seja lá como for, o fato é que, impregnado dessa áurea induvidosamente inspirada por aqueles queridos Antônio, Pedro e João, veio-me à mente (e ao coração) um invencível impulso de traçar algumas linhas sobre um homem forjado nas melhores cepas, egresso daquelas plagas, autêntico sertanejo, pois, que veio cá, à Capital, ensinar-nos mais, muito mais, do que enrolar um cigarro de fumo de corda ou as artes de uma boa ordenha.

Olha, meus caros, no exercício da advocacia recebi, naturalmente, gratas influências. Falo de conduta, ditada pela ética, e de conhecimento técnico-jurídico. Felizmente, de maus exemplos — e o meio jurídico, não sendo diferente de outros setores da vida humana, é prenhe deles — sempre me pus longe. Bem longe!

Mas dizia dos bons, que benfazejamente me influenciam até hoje. Poderia citá-los a todos (embora correndo o risco de esquecer-me de algum), mas hoje quero destacar o maior que tive, desde que ingressei na advocacia da Caixa Econômica Federal, no início dos anos 90. Posso dizer que muito do profissional que há em mim “se formou nele”, uma espécie de faculdade jurídica humana.

O Dr. Cornelio Alves, ou o meu amigo Cornelio, é o advogado público por excelência. Dedicadíssimo às causas que patrocina (não há o mínimo exagero no superlativo empregado), à empresa pública que o remunera não é menos intransigente em sua defesa. Observância estrita à ética — aquela, fora de moda, mas que tanto se apregoa, e hoje pouco se pratica — , inquebrantável dogma que abraçou. É leal, conselheiro e dotado de impressionante raciocínio lógico (seus pareceres são os melhores, escritos ou verbais). Cornelio é aquele a quem se recorre quando o problema parece sem solução. E não é rara a constatação de satisfação no semblante de quem acaba de consultá-lo, embora, por igual, não se furte a dizer a verdade mais dura, se assim for e houver de ser transmitida. Mas o faz com compaixão, apesar de sua aparente rudeza — na verdade mero disfarce que veste, esculpido no bravo e sofrido sertão alagoano, onde — como dito lá no início — estão suas raízes, decerto para afastar os mal-intencionados, e que, outrossim, ao primeiro contato com os de bem se esvai.

Tive a honra e o prazer de trabalhar sob sua chefia por vários anos. Foi o melhor chefe que tive, e o melhor que já vi atuar, sem embargo do inegável valor dos que se lhe seguiram. Hoje, Dr. Cornelio está completamente voltado ao exercício da advocacia, o que, para a CAIXA, se perdeu(emos) competente gestor, ganhou integral e brilhante técnico e artista (é que advogar, quem o faz bem não estranha a afirmação, é técnica e arte). Não há mal que não traga um bem...

E eu, força das ondas generosas da vida, voltei a desfrutar, mais amiúde, de seus inestimáveis conhecimento e amizade, decorrência do convívio novamente aproximado. Nada mudou, a despeito das funções diversas que hoje ocupamos, e dos anos passados. Continuo aprendendo com ele.
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Crônica publicada no Boletim ADVOCEF - Associação Nacional dos Advogados da Caixa Econômica Federal - jun/2007.

De forma condensada, e com o título Um senhor advogado, foi também publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 18/07/2007.
Originariamente postada no blog Ponto Vermelho (www.blogdoandrefalcao.com), em jul.2007

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