Foto na fazenda Lagartixa, Capela, AL (2016) |
Não
sei se esse período de festejos juninos, em que se respira e revive essa que é
a mais autêntica tradição nordestina, tenha contribuído para essas divagações.
Na verdade, foi-me gentilmente solicitada uma crônica, sugerindo-me, inclusive,
nela retratasse esta época, em que a santidade flerta com o pecado, e
vice-versa — é que são três santos a capitaneá-la, e inobstante as mais
diversas características de personalidade e vida de cada um, decerto tinham (ou
têm) em comum o gosto pelo milho verde estalando na fogueira, pela pamonha,
canjica e tantas outras iguarias dessa rica (e saborosíssima) culinária. O que
não sei é se eram (ou são, lá no céu) chegados a um forrozinho, mas tampouco
duvidaria. Afinal, que pecado haveria nisso, pois não? Seja lá como for, o fato
é que, impregnado dessa áurea induvidosamente inspirada por aqueles queridos
Antônio, Pedro e João, veio-me à mente (e ao coração) um invencível impulso de
traçar algumas linhas sobre um homem forjado nas melhores cepas, egresso
daquelas plagas, autêntico sertanejo, pois, que veio cá, à Capital, ensinar-nos
mais, muito mais, do que enrolar um cigarro de fumo de corda ou as artes de uma
boa ordenha.
Olha, meus caros, no exercício da advocacia recebi, naturalmente,
gratas influências. Falo de conduta, ditada pela ética, e de conhecimento
técnico-jurídico. Felizmente, de maus exemplos — e o meio jurídico, não sendo
diferente de outros setores da vida humana, é prenhe deles — sempre me pus
longe. Bem longe!
Mas dizia dos bons, que benfazejamente me influenciam até hoje.
Poderia citá-los a todos (embora correndo o risco de esquecer-me de algum), mas
hoje quero destacar o maior que tive, desde que ingressei na advocacia da Caixa
Econômica Federal, no início dos anos 90. Posso dizer que muito do profissional
que há em mim “se formou nele”, uma espécie de faculdade jurídica humana.
O Dr. Cornelio Alves, ou o meu amigo Cornelio, é o advogado
público por excelência. Dedicadíssimo às causas que patrocina (não há o mínimo
exagero no superlativo empregado), à empresa pública que o remunera não é menos
intransigente em sua defesa. Observância estrita à ética — aquela, fora de
moda, mas que tanto se apregoa, e hoje pouco se pratica — , inquebrantável
dogma que abraçou. É leal, conselheiro e dotado de impressionante raciocínio
lógico (seus pareceres são os melhores, escritos ou verbais). Cornelio é aquele
a quem se recorre quando o problema parece sem solução. E não é rara a
constatação de satisfação no semblante de quem acaba de consultá-lo, embora,
por igual, não se furte a dizer a verdade mais dura, se assim for e houver de
ser transmitida. Mas o faz com compaixão, apesar de sua aparente rudeza — na
verdade mero disfarce que veste, esculpido no bravo e sofrido sertão alagoano,
onde — como dito lá no início — estão suas raízes, decerto para afastar os
mal-intencionados, e que, outrossim, ao primeiro contato com os de bem se
esvai.
Tive a honra e o prazer de trabalhar sob sua chefia por vários
anos. Foi o melhor chefe que tive, e o melhor que já vi atuar, sem embargo do
inegável valor dos que se lhe seguiram. Hoje, Dr. Cornelio está completamente
voltado ao exercício da advocacia, o que, para a CAIXA, se perdeu(emos) competente
gestor, ganhou integral e brilhante técnico e artista (é que advogar, quem o
faz bem não estranha a afirmação, é técnica e arte). Não há mal que não traga
um bem...
E eu, força das ondas generosas da vida, voltei a desfrutar, mais
amiúde, de seus inestimáveis conhecimento e amizade, decorrência do convívio
novamente aproximado. Nada mudou, a despeito das funções diversas que hoje
ocupamos, e dos anos passados. Continuo aprendendo com ele.
_______________
Crônica publicada no Boletim ADVOCEF - Associação Nacional dos
Advogados da Caixa Econômica Federal - jun/2007.
De forma condensada, e com o título Um
senhor advogado, foi também publicada no jornal Gazeta de Alagoas,
de 18/07/2007.
Originariamente postada no blog Ponto Vermelho (www.blogdoandrefalcao.com), em jul.2007
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