domingo, 11 de dezembro de 2016

Assaltolândia

Aqui não tem igual. Nem no Rio de Janeiro — com a guerra, sem trégua, do tráfico de drogas — o cidadão deve sentir-se tão desprotegido pelo aparato criado pelo homem à sua defesa, encarnado na estrutura do Estado, que se designa segurança pública.

Não endoidei! É que lá — esta, pois, a minha tese —, embora naturalmente maior o número de marginais, também o é — mas em muito maior proporção — o de vítimas potenciais (os cidadãos, empresas, etc.), de sorte que, por uma questão de probabilidade (pasme!), parece que, lá, a ilusão do “isto não vai acontecer comigo” consegue se fazer mais presente. Não significa nada, claro, mas conforta. Ao menos até a quebra da ilusão. Registre-se, mais uma vez, que este sensacional silogismo não se funda em qualquer dado científico, estatístico, nada. É só uma percepção particular do fenômeno.

Em verdade, portanto, aqui, nos soa pior porque nem a ilusão nos restou, para nos agarrar (e nos enganar). Você sabe — sabe! — que poderá ser a próxima vítima. Ninguém está a salvo. Sim, o pobre, pobrezinho mesmo, também não está. Nem ele pode mais se vangloriar da única “vantagem” que ostentava frente ao rico ou remediado, ditada pelo seu próprio infortúnio.


É muita doideira, leitor. Vou dar-lhes um exemplo: não há (deve haver não) quem não conheça alguém que não tenha sofrido ao menos um assalto. Eu conheço várias vítimas. Tenho um amigo, o pobre do Ranulfo (desse jeito, aliás, corre risco, mesmo, de ficar pobre), cuja padaria foi assaltada dezessete vezes. Eu falei (ops!, escrevi) 17! O cabra tem câmara, serviço de segurança particular, o escambau! Nunca pegaram um assaltante, sequer. E, se sim, foi solto. Hoje, até, com medo de sofrer violência física em face de uma provável irresignação do ladrão, que possa frustrar-se à míngua de dinheiro no estabelecimento, já guarda alguma coisa para não decepcioná-lo.

Mas... — deve dizer-lhe alguém —, um consolo(?): você não está só. Afinal, outros estabelecimentos, até então a salvo da ação dos meliantes, já não o estão. São clínicas, estacionamentos de supermercados, centros comerciais (inclusive aqueles que no Brasil chamam, inapropriadamente, “Shopping Center”), bares e restaurantes, motéis, hotéis, e por aí vai.

É, amigo, a marginalidade da arma de fogo chegou, de vez, às classes média e alta... E tá uma chiadeira só!

Todavia, de qualquer sorte, pelo menos soube que uma alta autoridade do Estado houvera dito que tudo está sob controle. Ah, bom!
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Crônica publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de 10/06/2007
Originariamente postada no blog Ponto Vermelho (www.blogdoandrefalcao.com)
Foto em http://blogoosfero.net/claudioandre/

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