Foi
numa tarde de domingo que os conhecemos. Momentos maravilhosos, inesquecíveis.
Nunca esqueci aquela família. Nunca esqueci Celina, Cláudio e seus vinte e
quatro filhos. Alguns “pegos” por eles com graves problemas de saúde ou severas
deficiências físicas ou mentais. Todos rejeitados por quem lhes pariu. A vida?
Esta lhes fora dada, mesmo, por aqueles dois servidores do céu, na terra.
Luís, o seu nome. Não mais que seis, sete anos de vida. Como os
outros, que sobreviveram, foi tocado pela mão de Deus. Ops! Quero dizer...,
pelas quatro mãos de Deus. As de Celina, mais as de Cláudio.
Como
a maioria, abandonado num hospital. Abandonado, desnutrido, desenganado. Pele e
ossos — estes querendo lacerar aquela. E doença. Mas as quatro mãos de Deus
foram lá e... zapt!, seguraram-lhe a vida. Ou trouxeram-lhe à vida. Tanto faz.
E, assim, o que seria um curto e sofrido destino na terra foi-se transformando.
Levaram
Luís pra casa. Como os outros vinte e três. Aos poucos, as carnes se foram
acomodando entre os ossos e a pele ressequida e fina. Esta, devagarzinho
fazendo as pazes com aqueles. Uma gordurinha num canto. Outra noutro. Mais um
pouquinho acolá. As doenças a pouco e pouco desistindo dele. Até que a saúde
lhe foi, finalmente, apresentada. Seu melhor alimento, mais eficiente remédio?
O amor. Luís também não o conhecia. Então, tome amor! Não sei como ele não
engasgou, de tanto que recebeu. Resultado, não sobrou mal em Luís. E há o que
possa contra mãos de Deus? E o que dizer quando são quatro, essas mãos?
Quando
chegamos, Luís estava dormindo. Conversamos longamente com seus pais,
conhecemos seus irmãos — um dos meus filhos foi bater bola com os mais velhos,
no terreno de chão batido. Nossos amigos, que nos levaram a conhecê-los, diziam
nunca ter visto criança mais simpática, doce, amorosa. E ele, enfim, apareceu.
Tímido, ainda, em sua primeira primavera de idade mental, logo
lançou-se ao pescoço de um de nós. E assim ficou por algum tempo. Depois,
abraçou cada um. Demoradamente. Sorria um sorriso lindo, mas que não consigo
descrever. Não parou mais de abraçar. Todos. Ora um, ora outro. E passava um
bom tempo assim. Abraçado. E sorrindo.
Aí
fui entender porque Celina, com seu invariável e surpreendente bom humor, dele
dizia ser o “candidato permanente”. É que, explicara, os políticos abraçam as
pessoas em época de eleição. Luís as abraça o tempo todo. Permanentemente.
Nunca
mais esqueci Luís.
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Crônica publicado no jornal Gazeta de Alagoas, de 03/8/2007
Originariamente pub no blog Ponto Vermelho (www.blogdoandrefalcao.com), em ago.2007
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