terça-feira, 2 de agosto de 2011

As aventuras de Ed (história baseada em fatos reais)*

*Tb publicada no jornal Gazeta de Alagoas, de domingo, 30/07


Passava da meia-noite. Relâmpagos e trovões ensurdecedores. Acho até que era sexta-feira 13. Digamos que fosse, leitor. Afinal, o terror vivido por aquela santa mulher, D. Maria da Boa Viagem, poderia muito bem ter-se dado no desafortunado dia. Deixada em casa por seu marido, o viril, e de famoso vozeirão, Ed Muin Tafarra ― que àquelas horas ainda tomava umas com os amigos ―, e pelos filhos, que curtiam “la dolce vita” maceioense, Mª da Boa Viagem tentava driblar o medo jogando damas na internet. Por companhia, apenas o feio Carpacio (pronuncia-se como no italiano), cão raquítico, mas limpo, que D. Mª da Boa Viagem para isto não poupava recursos. Bonito, porém, não ficava, porque milagre, isto aquela santa mulher, apesar de santa, nunca realizou.

De repente, viu a maçaneta da porta de seu quarto girar. Por medo, estava trancada à chave. O caro leitor não imagina o susto que tomou a ainda jovial senhora. Sim, jovial. Apesar dos três filhos já grandes (e cruéis), sua pele era limpa e sedosa como pêssego. Diz-se que seu agudíssimo grito foi ouvido dos extintos Sete Coqueiros aos escombros do Alagoinhas. Até eu, que só estou a escrever, percebo-me com alguns pelos arrepiados.

Trêmula dos pés à cabeça, com o coração a querer traspassar-lhe o peito, D. Mª da Boa Viagem telefona para Ed Muin Tafarra. Embora do outro lado a campainha do celular tocasse alta e freneticamente: “... vou sim, quero sim, posso sim, minha mulher não manda em mim ...”, Ed, alagoano e CRB, mas também Vasco/RJ, nada ouvia, absorto em acalorada discussão sobre torcer-se apenas pelo time da terra (ou não). Também tentou os filhos. “Filho(a)”, dizia nervosa, mas baixinho, “vi a maçaneta do meu quarto girando! Não consigo falar com seu pai. Venha alguém aqui.” De cada um ouviu o mesmo não, crentes que a mãe estava a imaginar coisas. Pobre Maria.

Algum tempo depois, eis que Muin Tafarra aparece no bar onde se encontrava um deles, Lat Anhado, de quem ouviu o relato. Segurando o corpanzil na cadeira para não cair, Ed exclamou, às gargalhadas: “Oxe! Era eu! Tinha voltado pra casa, mas quando vi que a porta estava trancada, pensei: Maria dorme. Aí, pé ante pé, vim tomar uma com você.” E tome rir!

“Mãe”, se apoquente não. Foi o painho”, tranqüilizou-a a filha. Ouvida toda a história, Maria da Boa Viagem recompôs-se, voltou a trancar a porta do quarto e da casa, pôs o pega-ladrão e os tapa-ouvidos, e foi dormir. Os gritos de Ed, bem mais tarde, não foram escutados.
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