sábado, 5 de dezembro de 2009

Sobre amigos


Tb publicada no jornal impresso Gazeta de Alagoas, de 06/12/2009, e postada no sítio www.talentos.wiki.br/index.php


Sempre se diz que um amigo é um tesouro, ter um amigo é ser rico, e por aí vai. Mas de qual amigo se trata? A que amigo a afirmação se refere? Pra que serve um amigo, afinal?

Realmente, existe amigo pra tudo que é gosto (ou desgosto): amigo de infância, amigo de adolescência (é, tem também), amigo de maturidade (é feia a expressão, mas igualmente tem), amigo de mesa de bar no geral (no geral, quer dizer, em qualquer situação o cara tá disposto a tomar uma, sem necessidade de existir um motivo pra isto), amigo de balada, amigo de fofoca, amigo de oi — que é o amigo de cumprimentar —, amigo de profissão, amigo de viajar, amigo de sair de casal (quando você está acompanhado e ele também), amigo falso, amigo invejoso, amigo gay, amigo bi (e amigo hétero), amigo sociopata, amigo neurótico, amigo de ir ao jogo de futebol no estádio, amigo de tomar uma antes desse jogo de futebol começar, amigo de tomar uma após o jogo de futebol terminar (quando o seu time ganha, ou até quando perde), amigo de tomar uma vendo um joguinho na TV, amigo de tomar uma durante um “valenight” (quando tem a sorte de ter uma namorada ou mulher compreensiva, ou quando sabe fazê-la ser assim), amigo de confidências, amigo de conversar abobrinha, amigo de falar sobre “coisa séria”, amigo de te visitar quando você está doente, ou recém-operado, ou acidentado, amigo de chorar e rir com você, compartilhando de sua dor ou de sua alegria, amigo que quer ser você, amigo que quer ter o que você tem, amigo que te ama, amigo que te odeia, amigo que te malha pelas costas, amigo que ouve e guarda seus segredos, amigo traidor, amigo de sentir falta, de sentir saudade, de querer reencontrar, amigo de e-mail, de MSN, de Face, de Orkut, de Twitter, de telefone, de carta (em extinção), amigo de confraternizações (periódicas ou não), amigo de festas de aniversário, amigo de faculdade, de cursinho, de trabalho, de academia de ginástica, amigo de um só encontro, amigo de uma vida, amigo pra vida toda, amigo pra todas as horas... A relação é extensa, infinita, não pára; eu é que, cansado, parei. E não se pode esquecer também que um amigo de faculdade pode ser também de balada, de tomar uma antes do jogo, de MSN, etecétera (muitas finalidades juntas). Ah! Vou continuar mantendo o acento agudo no pára (verbo). Enquanto eu puder.

Claro que nem todos os amigos acima identificados podem ser classificados como amigos, mesmo. Alguns são meros conhecidos, colegas, traíras, sacanas, fdp, etecétera. Mas preferi chamá-los, a todos, amigos, porque a rigor você normalmente assim a eles se refere. Tipo: fulano é um amigo meu, conhecido, na verdade... Ou: beltrano (horrível esse nome, beltrano) é um amigo, quer dizer, um colega de trabalho... Ou ainda: cicrano (pior do que beltrano: triste!) é um amigo meu de faculdade, um sacana que nunca passa a fila na hora da prova... E seguem as explicações, sempre antecedidas do “é um amigo”. Daí que preferi considerá-los, a todos, assim.

Mas eu dizia que amigo é um tesouro que a gente tem na terra, quando tem. Bom, considerando a relação acima, todo mundo tem um amigo, e esse amigo de tesouro muitas vezes não tem nada, a não ser que você considere que é um tesouro porque serve para o seu crescimento e outras balelas (até verdadeiras). Amigo tesouro é o amigo presente, aquele de valor incalculável, aquele que se dele prescindirmos sofreremos, aquele cuja amizade devemos cultivar, cuidar, alimentar, de preferência todos os dias, aquele que devemos nos lembrar de manter contato ao menos uma vez por dia, aquele de dar boa noite, de dar bom dia, de ligar pra saber as novidades (do dia), aquele com quem você se encontra ao menos uma vez por semana...

Principalmente: amigo deve ter utilidade, mesmo que seja para uma companhia momentânea, um sorriso, um abraço. É! Amigo deve ser útil a sua vida! Coisa que só um amigo presente pode ser. Amigo ausente, por mais que por ele você sinta imenso amor fraterno, somente será desfrutado (essa amizade) em poucos e raros momentos, o que, diga-se, é muito pouco. A importância do amigo é ditada pela sua utilidade em nossas vidas. Um amigo com quem não podemos compartilhar nossa vida, nossos anseios, nossas alegrias,  nossas bobagens (e a dos outros também, claro) não é o amigo a que me refiro. É um amigo. Você gosta, chora e sorri com ele. Ama-o. Mas não é “o” amigo. Amigo é útil. Pra ser amigo. O consolo é que não se está fadado a ser “um” amigo pra sempre.
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6 comentários:

Joyce disse...

Quantas definições sobre amigos, hein!?Todas elas caem muito bem, mas não tanto quanto "tesouro". Tesouro, sim! Aquele como você bem cita: “de valor incalculável”. Aquele que devemos cultivar. Indubitavelmente, é um sortudo(a) aquele que por ventura encontra um amigo (tesouro) como você, André.
Bonita crônica.
Beijos da sua fã, e também amiga (oh sorte!!). ;)

André Falcão de Melo disse...

Sortuda é aquela (vou nem dizer aquele) que pode dizê-la amiga, como eu particular (e especialmente) posso. E além disso leitora!? Caramba, isto sim é a perfeita "junção do útil ao agradável" (onde li esse conceito antes, mesmo?).
Beijão e obrigado... muito obrigado!

Ananda Falcão disse...

Paaaai, você é o meu melhor amigo (sem sombra de dúvidas)! É o meu "amigo-tesouro"! Te amo

André Falcão de Melo disse...

E vc e seus irmãos são o meu maior tesouro! Além de tudo são meus amigos! Haja bênção!

Káthia Oliveira disse...

Concordo que a importância que damos a um amigo é baseada na utilidade deste na nossa vida. E essa “utilidade” está no precisar daquela pessoa (ou ela de nós) e também no se sentir tão bem ao seu lado que ela é se torna necessária na nossa vida.
Amigo é riqueza sim na nossa vida; aprendemos e ensinamos. Riqueza imensa isso; essa troca. Eu sou a soma de várias historias. Eu sou a soma de vários amigos. Como disse Gonzaguinha:
” E aprendi que se depende sempre
De tanta, muita, diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas”
Um abraço,Káthia Oliveira

André Falcão de Melo disse...

É isso aí, Kathia! E muito obrigado pela gentileza de sua visita (que espero venha a se repetir de agora em diante) e, principalmente, por seu comentário.
Abco pra vc!