domingo, 2 de dezembro de 2007

Então...

Crônica
Já repararam na febre do então? Perceberam que o paulista adora usar o então pra tudo? Pra absolutamente tudo? Não é possível que vocês não tenham. É notório! Todas as respostas, todas, iniciam-se pelo então.

Aliás, fico impressionado como essas coisas de repente aparecem, e pegam! É assim com as gírias, por exemplo. Tá ligado?, brother, véio... Não, não estou — de jeito nenhum! — pretendendo inserir o então no mesmo grupo. Podem ficar tranqüilos os que adotaram o então como um mantra, uma bengala, ou o que quer que os tenha feito aprisionarem-no, irremediavelmente, como o fizeram. Ou o então é que os aprisionou? Não importa. Certo é que o então é de outra estirpe.

Talvez se o então fosse nascido entre os usuários do tá ligado?, etecétera, essa crônica teria outro texto. Mas o fato, e que distingue o então dessas outras expressões, é quem o adota. Com efeito, o público é variadíssimo! Mas, nessa variedade, há os intelectuais — sim, até eles! —, os milionários, as celebridades... Enfim, o então, bem se vê, não é pra qualquer um, embora haja os intrusos — sempre os há, né? — que querem usar o que (o então) não lhes cabe. Mas não conseguem — despreocupem-se os titulares do então — tirar o seu glamour, de sorte que o então não soa como o verdadeiro então quando é por esses — pobres e mortais — declamados. Vejam:

— O que o senhor poderia nos esclarecer sobre essa mais nova e fantástica descoberta da medicina? — indaga o curioso e espantado jornalista à respeitada autoridade médica no assunto.
— Então..., começaria lhes dizendo que blá, blá, blá...
— Mas assim devemos concluir que a cura para essa doença é questão de dias?
— Então..., não é bem assim, afinal restam algumas últimas pesquisas a serem concluídas...

Já na balada, dois marombados (do pescoço pra baixo):
— E aí, véio? Tá bombando de gata, hein?
— Então..., pode crer... Irado!

Perceberam que o então não é pra qualquer um? O então tem um quê de sabedoria! Apesar dos usurpadores de plantão cometerem o sacrilégio de usá-lo, o então neles soa diferente. Não estou querendo defender que os desafortunados, os ignorantes, os surfistas, os donos das ruas — em suas caminhonetas importadas andando na contramão, na noite —, os de “notório saber” (he-he!) não possam usar o então. Afinal, desde que se façam entender, cada um usa o então como e quando quiser. O que quero ressalvar é que não importa quem o use, o então mantém o seu garbo, a sua linhagem superior.

— Entendeu, leitor?
— Então..., entendi.

Um comentário:

* hemisfério norte disse...

então...gostei muuito rssrs
está tudo ben diferente.~
então 1 bj
a.