quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Federal Savings Bank

Final de ano, o próximo que se avizinha, hora de balanço.

Bom, começo pelas coisas boas, dizendo que meu filho muito me alegrou neste pré-natal. Não, não estou grávido, tampouco promovi esse fecundo estado em alguma moçoila. Refiro-me ao período que antecede ao Natal. O motivo do meu regozijo, portanto, é que ele me pediu, de Papai Noel, uma... Sorry, a referência ao simpático e gordo velhinho de bochechas rosadas, lá do pólo norte, é porque além de povoar o imaginário de nossas crianças, é muito mais chique do que crer, por exemplo, num substituto similar gordinho nordestino. Quero dizer, no caso seria, na verdade, um papai noel barriga d’água! Pôxa, afinal, tudo que vem de fora é tão melhor...

Voltando ao que conversávamos: pediu uma... tchan-tchan-tchan-tchan: BIKE! Não é legal?! Início de 2006 escrevi uma crônica — “O Saci e a Bicicleta” — sobre isto que chamam — preconceituosamente, claro!, hoje sei — de estrangeirismo. É sério! Tá aqui no Blog do AnDRé fALcÃO. Vá lá pra conferir! Pois é, agora não sou mais xenófobo. Ao contrário, convenci-me — após ler uma reportagem recente, naquela famosa revista semanal brasileira tipicamente norte-americana — de que essa história de ser contrário aos termos estrangeiros que assolam o país é coisa de boboca xenófobo.

Assim, eu, que no meu período prenhe de xenofobia criticava tanto o uso dessas expressões alienígenas (vide a crônica, antes aludida), há poucos dias ouvi meu filho referindo-se assim, digamos, tão globalizadamente, à velha bicicleta: chamou-a, na seca, de BIKE! O orgulho encheu-me o peito! Não vou negar. Quase que grito: son, it’s so beautiful! Foi mesmo emocionante ver que não se tornou um xenófobo como eu fui (e hoje me envergonho tanto, mas agradecido àquele esclarecedor periódico). Refeito da emoção, ainda lhe perguntei, agora tentando dissuadi-lo da compra, que imaginei very expensive: “Mas deve estar muito cara uma bike", disse-lhe, caprichando na dicção do bai, da baike. Ele contra-argumentou, pondo-me à nocaute: “Não, pai, na loja Bike in the World está sale com 50% off!” Deus do céu, refleti, que prodígio! Peguei-o no braço e o abracei e beijei ali mesmo. Devo ter sido tão efusivo que, assustado, indagou-me, após libertar-se de meu exagerado abraço: “Ôxe, pai, que foi?” Interiormente desculpando-lhe o vício regional do passado (“ôxe”), respondi, cheio de orgulho, sentindo a quentura gostosa daquela solitária lágrima que escorrera de meu olho esquerdo (ou foi do direito?): Nothing, my little boy, nothing. Depois disto, ainda pude observar o vendedor também assim referindo-se à (agora, para mim, argh!) bicicleta: baike, pra lá, baike, pra cá. Sim, dear leitor, eu era testemunha, ali e naquele momento, da inserção definitiva de nossa mão-de-obra no mundo globalizado do nosso amado, bondoso e idolatrado Tio Sam. E o danado não falava bic, mas baike, mesmo, numa pronúncia impecável!

Agora, uma coisa chata: o nosso Presidente, que nos mata de vergonha falando português no exterior. Pior, um português bem povão, onde não faltam erros de gramática! Quanta saudade, meu Deus, daqueles discursos maravilhosos, em inglês, de tempos idos. Sociologia, Sorbonne, ah, tanta coisa chique que ficou pra trás... Agora é tudo tão chinfrim... Nada a ver conosco, que ansiamos tanto por ocupar o 1° lugar entre as colônias norte-americanas. Aliás, alguns trunfos já temos: a Amazônia, petróleo e vasto território (para barganha), e uma elite (olha eu aí, gente! Deixa eu ser também, vai...) que fala ingrês (ops, sorry, again, inglês), veste as cores do país-ídolo e ostenta seus símbolos oficiais (bandeira, etecétera), a todo tempo e lugar. Aliás, amigo leitor e vacinado contra xenofobia — como eu, agora —, quer coisa mais bonita do que a Estátua da Liberdade, linda, grandiosa, perfeita, na Barra da Tijuca de nossa conhecida Wonderful City? E que tal constatar, comigo, que o Dia das Bruxas chegou pra ficar, e — essa é da hora! — que está vindo aí, com toda a força (Deus é Pai!), o Valentine’s day? Já não era sem tempo. Santo Antônio tem mais nada a ver, hoje, no mundo globalizado. Namorar sim, mas sob as bênçãos de São Valentino (ou Valentim, para alguns). E viva o american way of life!

Um temor: o projeto do Deputado Federal pelo PCdoB/SP, o alagoano de Viçosa, Aldo Rebelo, que pretende regular o uso dos estrangeirismos em certos locais e para certos fins. Certamente inspirado na França, onde há algumas restrições legais. Só que ele não sabe, coitado, que a onda agora é o inglês! Era só o que faltava! Pelo amor de Deus, parem esse homem! Xenófobo! Ei! Xenófobo! Xingo mesmo! Adorei essa palavrinha, como vocês estão vendo. Stop, man!! Nós queremos continuar tomando ice cream, indo aos Shopping Centers, alugando nossos carros em alguma rent a car! Queremos pedir comida no delivery, e não num serviço de telentrega (ou teleentrega, olha a complicação), fazer um coffee-break, e não uma “pausa para o café”, comer num fast-food, e não num “comida a peso”. Queremos, enfim, estudar marketing e consumir muitos, muitos produtos light e diet — a dieta não seria a mesma, ditos em português. Pois é, calem-no! Aproveitem e calem Ariano Suassuna, também. E Rui Barbosa. Hein? Já morreu? Tá, então pula este.

É isto, amigos leitores anti-xenófobos (como eu, volto a frisar!). Hã? Meu maior desejo para o próximo ano? Ah, ia esquecendo. Como não vai dar pra trabalhar numa das grandes instituições financeiras privadas que atuam no país, preferencialmente de capital maciçamente estrangeiro — porque, definitivamente, este governo que está aí não vai privatizar a velha e honrada Caixa Econômica Federal —, quem sabe não aceitariam mudar seu nome para Federal Savings Bank – FSB. Já pensou? Assim, em itálico, para não deixar dúvida da origem do nome. Gosh, seria a glória! Psiu! Shut up! Cuidado pra concorrência não copiar.
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4 comentários:

Anônimo disse...

Deixe-me agora proceder diferente. Explico: precede a esta digitação um rascunho manuscrito para não perder o conteúdo abaixo. Analfabeto redacional faz assim! Tem preguiça de refazer uma mensagem.
Dias atrás, texto prontinho, na barreira "escolher uma identidade" me enganchei todinho no "blogger/google". Tinha outras opções: Liverjournal,Typekey, worpress... Vacilei! Ao invés de "qualquer OPenID", fidelizei no "Blogger/google", induzido, talvez, por nosso eterno "Save our Souls" do google. Merda, acabo de descobrir que SOS não significa "Save our Souls". Já não se faz mais estrangeirismo como antigamente. Deixe-me tentar novamente o envio deste rabisco através do mísero português (qualquer), adjunto do comandante OpenID. Tchau! Bye, bai, quer dizer...
Marcelo Malta
marcelomalta_br@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Falcão: acuse-me o recebimento da presente mensagem, pois acho que desta vez consegui. Parece que está em vossas mãos a aprovação da mensagem anterior.
Abraço,
Marcelo Malta
ps.: Feliz 2008!
marcelomalta_br@yahoo.com.br

* hemisfério norte disse...

OBRIGADA PELOS VOTOS PARA 2008
FELIZ ANO pr vc também.
bj de Portugal
a.

André Falcão de Melo disse...

Meu amigo-irmão Marcelo,

Seus comentários foram publicados. Aliás, muito bem escritos. Muito obrigado pela atenção e gentileza!

Forte abraço p/o amigo, e um ANO NOVO maravilhoso!

André