terça-feira, 6 de abril de 2010

Algumas palavras sobre... ela!

Dá medo só de falar. Escrever, então... Não tanto dela, em si. Da palavra. Ouço Billie Holiday enquanto escrevo. Já morreu. Olho ao redor e vejo Jesus, Nossa Senhora (e as suas várias designações: de Fátima, Desatadora dos Nós e da Aparecida), Santo Expedito, São Judas Tadeu e Santa Catarina, imagens que tenho no meu pequeno “santuário”. Também já morreram, e há muito tempo. A revista ao meu lado está aberta na página de uma reportagem sobre o genial cronista Armando Nogueira, morto recentemente. A morte está sempre por perto, como que não nos deixando esquecê-la.

Fantástica essa história de vida após a morte. Acredito mais do que desacredito. Dúvidas demais tenho. Sempre desejei manter contato com meus avós. Fiquei na vontade. Eles nem tchum pra mim. Também nunca fiz nada pra isto. De certo modo, acho que tomaria um baita dum susto se me aparecessem aqui no quarto. Principalmente à noite, como agora. Hum,... melhor mudar de vertente.

Tenho muito medo de que meus filhos se vão antes de mim. E também tenho o mesmo medo quanto aos meus pais. Assim, ou quero ir antes deles, ou não quero que eles vão sem mim, ou simplesmente não quero que morramos. Nunca. É aí que concluo que a morte só atemoriza quando pode virar pra quem a gente ama. E só é tão ruim porque não sabemos se vamos nos encontrar depois, todos já mortinhos, e se lá é bom, pelo menos igual aqui. Aí vem esse medo e essa sensação terrível de separação eterna. Isto é o que lasca tudo. Se a gente soubesse que iria se encontrar depois (de certeza!), a dor da morte seria muito menor. Algo assim como uma longa viagem: você sabe que se tudo correr bem deverá reencontrar o viajante. E como lá não teria morte, porque já estaríamos mortos, o reencontro seria certo.

E os animais? Pra onde vão quando morrem? Sim, porque os animais têm alma, estou certo. Será que vou me encontrar com a Kika, quando morrermos? Será que lá se dorme, e de manhã ela vai permanecer toda respeitosa em sua casinha feita de nuvem, por saber que quando acordo não gosto de latido, nem de pulos de alegria em minhas pernas, com o rabinho balançando por me ver? (Calma, leitor, quando volto do trabalho ela tem permissão pra me saudar efusivamente) Eita! Será que vou ver o Hippie? Esteve comigo uns bons anos. Não ligava a mínima pra ele, mas do meu jeito o amava. Só quando estava doente é que eu me dignava a dar-lhe bolachas mimosa na boca. E se ele já reencarnou? E se a Kika é o Hippie reencarnado? Vou prestar bem atenção d’agora em diante.
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Também postada no sítio Talentos - prosa e poesia
Enviada à publicação no jornal Gazeta de Alagoas
Foto:
http://seculoxiv.files.wordpress.com/2009/04/morte.jpg

6 comentários:

Aída disse...

Oi Andre!!!
To aqui de olhos cheio d'agua..... eu acredito sim que depois da morte nos nos reencontramos com as pessoas e acrdito tambem que ha reencarnacao. Cada um de nos tem uma missao, e se a missao nao for completada ou feita nos voltammos pra completar a missao!!!
Tenho certeza que ainda vou encontrar meus irmaos de novo, e isso que me consola de nao te-los mais por aqui!!!
Beijos
Aida

Joyce disse...

Será possível... Até quando o assunto se reporta a algo tão delicado, ainda assim, você consegue nos surpreender escrevendo com humor e inteligência. Bem, agora tenho a certeza, de que se tratando de VOCÊ tudo é possível, mesmo.

André Falcão de Melo disse...

Certamente que vai, sim, Aída!
Bj grande pra vc! Muito obrigado!

Ananda Falcão disse...

paiiinho, amei o texto! eu tenho o mesmo medo, principalmente de que meus pais e meus avós morram, mas sempre peço pra morrer pelo menos um dia antes, ou então, morrer junto como você disse! te amooo muuuito, o máximo!! (L)

Anninha Melo disse...

Tio,

assim como os da Aída, meus olhos ficaram cheios d'água.
Nunca mais tinha parado para pensar "nela"... Aff! Meu coração apertou e mais uma vez tive a certeza que quero partir antes de todos vocês... e mais novante encontrá-los para sermos essa mesma famíla.
Não sei se suportaria caso fosse diferente.

Amo vc!

bjosss

André Falcão de Melo disse...

Tb, Anninha. Deus te abençoe! Bjs