quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A mala


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Estação Central de Milão. Aguardávamos o trem para Veneza. Precisava ir ao banheiro. Deixei Ana Paula e fui procurá-lo. Andei, andei,... e nada. Bexiga cheia, hora do embarque chegando, vi-me aperreado. Encontrei! Era pago. Tentei desesperadamente enfiar todas as moedas possíveis na máquina. Desisti.

Preocupada, sorriu aliviada ao me ver de volta. O trem chegara e não espera. Devo informar que em Maceió sugeriu-me comprar uma mala de quatro rodinhas, porque, argumentava, seu transporte é mais prático e, por isto mesmo, mais confortável: “bastavam dois dedinhos para empurrá-la”, dizia. Tsc-tsc. Que nada. Coisa de mulher...

Na verdade, logo que chegamos à Milão já senti uma ponta de arrependimento, vendo-a toda espigada empurrando sua mala com os dois pequenos e finos dedinhos.
Às vezes só com um. Tra-la-lá... (imaginava-a cantarolando em pensamento). Soubesse assobiar, estaria: fiu-fiu-fiu... De minha parte, peguei a alça da minha, deitei-a num ângulo de 45°, e fui puxando-a por uma das mãos. Percurso curto, não cheguei a invejá-la, ainda.

Agora, porém... Nem bem chegamos aos terminais, onde estacionada uma carrada de trens, vi-os multiplicarem-se a nossa frente enquanto, correndo, procurávamos o 9729. Ela empurrando a sua, que deslizava serelepe e suavemente pelo assoalho limpo e liso; eu, puxando a minha sobre as duas míseras rodinhas, naquele ângulo de 45º, com o braço já doendo pelo peso da bicha, além do cansaço pela corrida. Sem falar na mochila (eu) e na bolsa (ela) que carregávamos junto ao corpo.

Depois de muito correr — lugar grande do créu! —, localizamos o trem. Faltava achar nosso vagão. Corremos mais, aflitos com receio de que partisse. Instantes intermináveis em que sequer me lembrava da bexiga cheia, a grande culpada. Vagão após vagão... Nada. Rápida conferência do bilhete. N.º 006. Ainda era mais atrás. Corre! Às vezes virava-me para vê-la (eu era mais rápido e ia à frente). Lá vinha ela, empurrando-a com um mínimo esforço.

Encontramos, finalmente. Malas pra dentro, ofegantes e suados, livramo-nos dos grossos casacos, cachecóis e gorros que pretendiam nos proteger do frio europeu de abril. Sentamos. Ufa!

Pouco depois, no banheiro do trem, enquanto me aliviava do já enorme peso na bexiga, pensava: se arrependimento matasse, estaria morto! Outro engano. Não estaria, porque ainda iria me arrepender muito, durante a viagem que mal começara, por não ter comprado a bendita mala de quatro rodinhas.

Um comentário:

Aída disse...

Eita Andre, vc prende bem viu, se foose eu tinha feito nas calças.... Agora, se tivesse escutado ela nao teria tido problema, pois mulher sabe das coisas pois somos mães!!!! He he beijos Aida