quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Velho

tempestade-jesuisentraindechercher.blogspot.com/
Já sou do tempo de muitas coisas (e até de pessoas) que não existem mais, ou que foram completamente modernizadas, tenha lá algo de bom ou ruim nisto.

Às vezes me sinto envelhecendo. Não apenas pelos fios de cabelos brancos que começam a dar o ar de sua graça, ainda que raros, ou pelo metabolismo que já percebo um pouco mais lento, ou mesmo pelas dores nas costas que antes inexistiam, tampouco pela necessidade que sinto de alongar o corpo vez por outra (era pra ser diariamente, mas não raro sou vencido pela preguiça).

Não bastasse o testemunho dos avanços tecnológicos rapidamente ocorridos e impressionantes, sinto-me assim quando vejo as tantas mudanças verificadas também nos costumes. A começar porque muito direi, de agora em diante, que “sou do tempo”, sinal de que a velhice está mesmo se aproximando.


Assim, sou do tempo, por exemplo, em que mulher quase não tomava bebida alcoólica. Hoje se embriaga, não raro mais do que os homens, quando não dá vexame (e aí é horrível, perdoem-me). Lembro-me da minha estranheza quando, numa balada qualquer, vi uma garrafa de vodka, copos e balde de gelo, no chão, rodeados por algumas amigas (da garrafa), em pé, dançando ao seu redor. Parecia que estavam adorando uma deusa. No caso, a deusa “Absolut”. Dizem que nada mais é do que o exercício legítimo do direito de também tomarem seus porres. É, pode ser.

Também sou do tempo em que o beijo vinha depois. Depois de paquerar a garota (olha a velhice aí), depois de conhecê-la, depois de “começar a namorar”, o beijo surgia como o ápice, recheado de emoção, e não apenas de tesão. Certa vez uma garota veio me contar, cheia de orgulho (verdade!), que tinha sapecado (não é, aqui, antônimo de caprichado) vinte e cinco beijos na  boca durante o então recente carnaval passado. Danei-me a bochechar Listerine na primeira oportunidade que tive.

Sou do tempo, ainda, em que homem que era homem não posava pelado. Jamais. Posar sem roupa era atividade ligada apenas à natureza vaidosa da mulher (às vezes criticada, porque estaria se desvalorizando, essas coisas). Homem também não dançaria em rodinhas (sem trocadilho) com outros homens na balada. E “mulher de amigo meu” era, quase invariavelmente, homem. Ah! Homem também não gostava de exibir o corpo desnudo (ou quase) de sua mulher. Hoje parece excitar-se com isto.

Sou do tempo, até, em que bicicleta era apenas a bela e curvilínea bicicleta. Ou, carinhosamente, a magrela. Hoje é baique. “Sorry: bike”.

3 comentários:

Ana Paula disse...

Você é o velho mais jovem que eu já conheci! Sua alegria, seu sorriso, suas brincadeiras que eu amo, lhe fazem um menino(e me fazem uma menina também). Ser velho do seu jeito é bom demais!

Te amo d+

Mayara disse...

Tenho orgulho do meu chefe!! Sabe redigir maravilhosamente bem!

Lucas e Maya

André Falcão de Melo disse...

Brigado, Lucas e Maya! Ops! Mayara!
Mas ter uma estagiária interessada, comprometida, assídua e inteligente como vc não é menor motivo de orgulho pra mim (e pro Dr. Fernando - hehehe)