domingo, 29 de novembro de 2015

Para sempre, meu pai*

31/12/2010
*Tb pub no jornal GAZETA DE ALAGOAS, 28.11.2015, sábado.

Uma vez, você me disse: nada poderia ser mais importante do que a nossa união. Regozijava-se, porque via éramos leais uns com os outros. Vejo que isto é perceptível mesmo quando você já se foi, porque nossa mãe segue sendo a nossa liga.

Interessante como você parecia ser sábio, no seu jeito (só) aparentemente displicente de ver e dizer as coisas. Fui percebendo por exemplos que testemunhava na sua profissão, de médico clínico, e por diagnósticos ou prognósticos sobre os problemas da vida que nos desafiavam. Invariavelmente os ouvia, no silêncio de seu quarto, ou, mais amiúde, em nossas viagens pelo interior do estado, quando você conseguia me arrancar da cama para acompanhá-lo bem cedo, ou quando você se resignava aos meus horários, para ter-me consigo.

Uma vez colega seu testemunhou-me diálogo havido contigo sobre concurso público que eu prestara: se ele não passar, só passaram gênios. Sorri, porque você não me deixava perceber essa sua expectativa. Também me dizia da minha irmã, primogênita, que seria a melhor médica que poderia ter passado por aqui, não fosse tão boa nas letras, donde talvez por isto a sua caçula tenha seguido o caminho que aquela abdicara. Noutra, um dos filhos de compadre seu vaticinara-me: meu pai me disse: se ele tinha algum amigo na vida, esse amigo era o Toinho.

Nunca conheci ninguém mais da paz do que você. Certamente puxara a seu pai, o Major Ioiô, o mais pacífico “coronel” dessas bandas. E, aqui, você era involuntariamente dissimulado, porque quem não o conhecia tinha-o por bravo. Você era tão da paz, que não raro achei-o tolo, alguém que os outros teriam feito ou faziam de bobo. Para depois constatar que sua atitude era sempre a de quem tudo fazia para evitar o conflito. Em momento algum, porém, em que houvesse necessitado da sua presença masculina, você me faltou. Nessas horas de aflição, sentia sua força e o bem que ser seu filho me fazia.

Minha mãe foi muito amada por você. Nunca presenciei alguém que humildemente visse tanto a mulher como alguém muito além de si. Sempre percebi que você a considerava o leme de nossa família. Mesmo quando o leme era você. E ela, por sua vez, amou-o tanto, que estava definhando junto com você e as doenças que teimavam em testar a sua resistência. É, pai, a minha mãe teve a saúde renovada quando você, sem se render, foi chamado por nosso Pai que, finalmente, fê-lo descansar.


Aí, vez por outra, aqui no Villas, vejo-me a dizer-te do meu amor. E do amor que você nos deixou: a mim, a Rosina, a Dani, e a nossa mãe. Para sempre.